A produção brasileira de grãos deve ser a maior da história na safra 2020/21, aproximando-se de 254 milhões de toneladas, puxada pelos bons desempenhos da soja e do milho, que devem bater novos recordes históricos. Esse cenário positivo, no qual também se destacam os ganhos com as exportações, decorrentes da boa demanda internacional associada à desvalorização do real, foi o pano de fundo para o sétimo seminário online da Jornada “Somar Forças”, organizado pela Credicitrus.
O evento, realizado no dia 11 de agosto, com transmissão ao vivo pelo canal da Cooperativa no Youtube, teve como palestrantes seis cooperados, que compartilharam conhecimento e experiências na produção de grãos no estado de São Paulo, no Triângulo Mineiro, em Mato Grosso e em Tocantins.
Discorreram sobre o tema “Inovando na Produção de Grãos” os cooperados Edvair José Manzan, Georges Balech Junior, Marcelo Lopes de Souza, Marcelo de Oliveira Tannous, Mauro de Barros Tarozzo e Silvio de Castro Cunha Junior. O professor Marcos Fava Neves, da USP e da FGV, foi o âncora e mediador do evento, do qual também participaram o Diretor Comercial da Credicitrus, Domingos Sávio, e o Diretor de Tecnologia e Gestão da Cooperativa, Marcelo Martins.
Apresentações em resumo
Domingos Sávio abriu o evento revelando otimismo com o desempenho do segmento de grãos, particularmente de soja e milho, que continuam com preços favoráveis, demanda internacional aquecida e produtores capitalizados em razão das boas receitas de exportação. Isso tem permitido que adquiram antecipadamente insumos para a safra 2021/22, demonstrando a disposição dos agricultores de continuar investindo em melhorias e no fortalecimento de sua capacidade produtiva. Nisso, ressaltou, têm o apoio integral da Credicitrus, que oferece um completo portfólio de produtos e serviços para o setor, nos mercados pré e pós-porteira, a começar por linhas de crédito rural do Pronampe e RO (recursos obrigatórios). Além de modalidades com recursos livres, através das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), e operações com repasse de recursos do Finame e do BNDES, entre outras, com juros mais baixos e contratação sem burocracia.
Marcos Fava Neves complementou os dados citados por Domingos Sávio, salientando que também está otimista com o desempenho do agronegócio. Confessou que sua preocupação com o futuro é hoje menor. Citou que a demanda internacional pelos produtos brasileiros está em nível elevado, mantendo as exportações aquecidas e ainda beneficiadas pela desvalorização cambial. O Brasil começa a safra 2020/21 com estoques baixos, o que ele considera “um bom problema”. Acrescentou: “Estamos vendo preços verdadeiramente impressionantes. Acabei de receber a tabela de preços de uma cooperativa de São Paulo, que paga, pela soja entregue agora, R$ 120,00/saca. Se o produtor quiser vender a soja que vai plantar nos próximos meses e colher em janeiro e fevereiro, tem R$ 106,00/saca garantidos. E se quiser vender a soja que colherá em 2022, tem R$ 103,00/saca”. A seu ver, a agricultura brasileira vive “um momento incrível”, e a 11ª estimativa de safra divulgada pela Conab no dia 11 de agosto, é superior à de julho, indicando que, em comparação com 2019/20, a produção brasileira de grãos crescerá 11,6 milhões de toneladas nesta safra. E concluiu: “O presente de Natal para a sociedade brasileira o agro já deu e vai ajudar o Brasil a se levantar mais rapidamente dessa situação surreal pela qual passamos”.
Avanços no campo
A seguir, são resumidas as apresentações feitas pelos cooperados convidados.
Marcelo Lopes de Souza, produtor de amendoim nos municípios paulistas de Borborema e Itápolis, destacou que sua região é propícia a essa cultura, tanto pela topografia quanto pela presença de cerealistas, a maioria já exportando e facilitando o escoamento da produção. Sua preocupação diz respeito à falta de terras para cultivar, uma vez que o amendoim é plantado quase exclusivamente em áreas de reforma de canaviais e nem todas as usinas têm feito parcerias com agricultores para esse fim. Sobre esse aspecto, Marcos Fava Neves comentou depois que o estado de São Paulo tem um “verdadeiro exército” de produtores qualificados, com maquinário moderno, “o que pode representar uma oportunidade para as usinas”, em razão dos benefícios agronômicos e ambientais da rotação de culturas, mas igualmente por seu impacto social positivo, ampliando a sustentabilidade do segmento.
Marcelo tem cultivado, nos últimos três anos, 250 alqueires de amendoim. Obteve na última safra uma produtividade média de 540 sacas/alqueire. Como o preço da saca situou-se em torno de 12 a 13 dólares, afirma que a cultura se tornou muito atrativa. Ele planta dois tipos de semente, uma precoce, de 120 a 135 dias, outra de ciclo mais longo, de 150 dias, para tirar melhor proveito da logística da colheita, que é dividida em duas etapas: arranquio e, após cinco a sete dias de secagem ao sol, recolhimento. No manejo da cultura, passou a fazer adubações, prática que não se usava na cultura do amendoim até alguns anos atrás, obtendo ganhos de produção. Para o controle fitossanitário, faz sete a oito aplicações de defensivos no amendoim precoce e oito a dez, no de ciclo mais longo. Nesse aspecto, revelou preocupação com a rastreabilidade do produto, “uma vez que a maioria dos venenos usados não tem registro”.
Georges Balech Junior e seus irmãos, tradicionais produtores de laranja na região de Mogi Guaçu, SP, passaram a cultivar milho em área de renovação de pomares há sete anos e, tempos depois, ingressaram no segmento de soja em áreas de renovação de cana. Hoje cultivam 1.500 hectares de grãos, dos quais pouco mais de um terço irrigado com pivô central. Em paralelo, diminuíram um pouco a área de laranja, na qual vêm adotando o plantio adensado. Na safra de verão, plantam 100% da área de grãos com soja e, na segunda safra, cultivam milho e sorgo em algumas áreas de pivô central e nas demais mantêm há alguns anos um programa de adubação verde, que foi intensificado no último ano, o que tem proporcionado bom retorno, “pois equivale a plantar raiz”, afirma Georges. Outro avanço introduzido foi a instalação há três anos de um silo em sua propriedade em Mogi Guaçu, com capacidade inicial de 98 mil sacos, ampliada para 350 mil sacos no ano passado. Essa unidade tem prestado serviços a terceiros, adquirindo e beneficiando a produção de pequenos agricultores da região, que trocaram a laranja e outras culturas pela soja.
Mauro de Barros Tarozzo é engenheiro agrônomo e produtor de soja em Barra do Garça, MT. Conforme conta, representa a quarta geração de uma família de agricultores atuante inicialmente em Morro Agudo, SP, próximo a Ribeirão Preto. Nessa propriedade, seu pai cultivava cana e manteve durante 12 anos um projeto de fruticultura. Porém, com o custo de oportunidade representado pela elevação do valor das terras, passou a arrendá-las e adquiriu a propriedade em Mato Grosso, na qual hoje Mauro reside. Nesta, a pecuária de corte foi a atividade inicial. Em seguida, foi implantado um projeto de reflorestamento de 4.700 hectares com eucaliptos, destinados em sua maior parte à produção de energia. Com a experiência adquirida anteriormente em Morro Agudo com o plantio de soja em áreas de reforma de canaviais, Mauro deu início à produção dessa oleaginosa em Mato Grosso. Porém, como a região em que está a propriedade, no vale do rio Araguaia, é de baixa altitude, vem buscando adotar práticas adequadas às condições locais, onde a janela de plantio é muito curta: “Aqui começa a chover no início de novembro. Observamos que a soja plantada logo nas primeiras chuvas dava uma produtividade de 75 sacas/ha, por exemplo, enquanto a plantada depois, até 5 de dezembro, tinha rendimento em torno de 50 sacas/ha”. A primeira providência foi diminuir o ciclo de plantio para 15 dias e a meta é reduzi-lo ainda mais. Isso exigiu investimentos em novas máquinas, tratores com piloto automático, plantadeiras com monitores, possibilitando plantio à noite, uso de misturadores de calda pronta e Uniports com sensores de desligamento automático para evitar perdas. E, para minimizar problemas decorrentes da eventual falta de chuvas, como os frequentes veranicos no início do ano, também vem trabalhando com cobertura do solo. Esta foi feita de início com milheto, e mais recentemente passou a ser feita com Brachiaria ruziziensis, que tem possibilitado uma safrinha de pecuária. Uma tendência mais recente é misturar várias forrageiras nesse processo, com a ideia, agora, de fazer cobertura com milheto, Brachiaria ruziziensis e crotalária, para aprofundar o sistema radicular e controlar nematoides, e depois chegar à mistura de até seis espécies diferentes. Outro avanço, introduzido pela Embrapa e que Mauro pretende adotar, é fazer análise biológica do solo, complementar à físico-química, para avaliar como está a biota da área de plantio. Uma inovação adicional é a aplicação de cálcio e magnésio em profundidade, que proporciona resultados superiores aos das formas tradicionais de correção, aplicando-se hoje 10 a 12 toneladas de calcário por hectare nas áreas de abertura, quase o dobro do que ase plicava tradicionalmente, com incorporação até 30 a 40 cm de profundidade. Declara: “Temos observado que, nas áreas em que fazemos isso, quando há veranico em janeiro, não se observa queda de produtividade”. Há ainda cuidados com a nutrição, com aplicação de enxofre por meio de gessagem ou de pastilhas (cujo teor desse elemento é bem maior), nas áreas em que é difícil chegar com o gesso agrícola, e ainda com aplicação de boro via solo.
Edvair José Manzan, produtor de soja, milho e sorgo em Barretos, SP, e na região sul do estado do Tocantins. A propriedade em Barretos foi adquirida nos anos 1980 por seu pai, já falecido, onde inicialmente cultivou manga, dedicando-se depois à pecuária de corte. Em 2008, começou a plantar soja no Sul do Tocantins, onde neste ano foi colhida a 12ª safra, com produtividade média de 60 sacas por hectare. O cooperado comenta que o solo ainda precisa ser enriquecido, pois a área ainda nova e pouco trabalhada. Além disso, está isolada geograficamente: “Muitas vezes, para conseguirmos uma peça, é preciso percorrer 300 km. Os combustíveis são mais caros. E, para vender a produção, os preços são mais baixos”. A propriedade está dividida entre as culturas de soja (900 ha), milho (200 ha) e sorgo para silagem (150 ha). Como na região chove pouco, tem adotado aplicações de calcário não só em superfície, mas também em profundidade, colocando 1.700 kg/ha à profundidade de 25 cm a 35 cm. Para o controle de nematoides tem utilizado Azospirillum e um novo inoculante. Em paralelo, como é uma área tradicional de pecuária, vem investindo na capacitação de pessoas para operação de Uniport, utilização de GPS, recebimento e conferência de produtos adquiridos. Da mesma forma, vem investindo na implantação de processos e controles para gerar maior eficiência e prevenir perdas.
Marcelo de Oliveira Tannous e sua família produzem soja no verão e milho na segunda safra nos municípios de Guaíra, SP, e Conceição das Alagoas, MG, onde seu pai, imigrante libanês, adquiriu 5 mil ha em 1976. Aí conta com o apoio de seus três filhos (Marcelo, seu irmão e sua irmã). Marcelo relata que, até 2004, a produção de soja nessa propriedade se resumia a uma safra por ano, com plantio iniciado em outubro e novembro, às vezes estendendo-se até dezembro, e colheita do início de março ao final de abril, o que era pouco rentável. Em meados de 2005, em razão da crise da ferrugem asiática que afetou severamente a soja, seu pai decidiu arrendar parte das terras para uma usina de açúcar e álcool plantar cana. Marcelo relembra: “Com esse arrendamento, tivemos que nos adequar à realidade. A usina nos passava áreas de reforma, determinando que plantássemos soja rápida, de 90 a 100 dias, porque o plantio da cana tinha data para começar”. Com isso, aprenderam a produzir em menor tempo. Começaram a plantar, nas áreas não arrendadas, duas safras por ano, soja seguida de milho. Marcelo acrescenta: “Aprendemos plantio direto, plantio direto em cima da palha de açúcar e, em 2012, quando terminaram os contratos de arrendamento, reocupamos as áreas. Mas esse período de arrendamento foi uma lição de vida”. Ele enfatiza a necessidade de aplicar todos os recursos tecnológicos disponíveis – máquinas, equipamentos e conhecimento – para a obtenção de alta produtividade: “Sem isso, vamos sair do mercado”. Adicionalmente, a família investiu em um armazém próprio, com capacidade de 21 mil toneladas, concluído no ano passado e que já presta serviços a outros produtores. Para completar, afirma que é preciso pensar nas pessoas: “Temos funcionários com mais de 25 anos de casa. Temos que apoiar quem nos ajuda, para conseguirmos gerir bem o negócio e ter a produtividade que desejamos”.
Silvio de Castro Cunha Junior dedica-se às culturas de cana e soja e à pecuária de corte e leiteira em Campo Florido, MG, e Tailândia, PA. Nesta cidade, conforme diz, está mais perto do porto, com isso obtém melhor preço de venda, paga menos pelos adubos, porém conta com mão de obra pouco experiente e ainda enfrenta chuvas abundantes, em torno de 2.600 mm por ano. Sua principal atividade é o cultivo de cana, que fornece a duas usinas. A pecuária também tem importância e ressalta que a exploração intensiva dessa atividade é um caminho sem volta, e prevê: “O boi vai comer muito e isso vai dar ainda mais consistência à evolução da produção de grãos no Brasil”. Quanto à produção de soja, confirmou os cuidados preconizados pelos outros cooperados participantes e ressaltou a importância dos cuidados com a biologia do solo: “Sem essa bicharada, daqui a pouco nós não somos mais nada”. E, no que se refere à produção de leite, declarou que hoje tira em torno de 14 mil litros por dia e que deve chegar em breve a 15 mil. Finalizou exaltando o cooperativismo: “Sem companheiros como a Credicitrus, seremos sempre pequenos. Porém, juntos seremos cada vez mais fortes.”
Marcelo Martins, diretor de Tecnologia e Gestão de Credicitrus, encerrou o evento, reafirmando que a Cooperativa oferece um completo portfólio de produtos e serviços par atender a todas as necessidades financeiras dos cooperado com economia em juros e tarifas e participação nos resultados. Acrescentou que a Credicitrus tem dado atenção especial à série de seminários on-line Somar Forças, que foram criados para abordar os mais variados temas de interesse dos cooperados em suas múltiplas áreas de atividade, sempre aproveitando o conhecimento e as experiências positivas dos próprios cooperados, em benefício não só dos associados, mas também das comunidades em que a Credicitrus está presente. E completou: “Esses eventos nos têm mostrado a resiliência do agronegócio, sua capacidade de adaptação e o profissionalismo de nossos cooperados, mantendo assim o desenvolvimento e a sustentabilidade de nosso país”.
A gravação integral do seminário permanece à disposição de todos os interessados no canal da Credicitrus no Youtube: