Seguem nossas reflexões dos fatos e números da cana em julho e o que acompanhar em agosto. Na cana, segundo dados divulgados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) até 1º de julho, a moagem acumulada de cana no ciclo 2021/22 alcançou 210,93 milhões de t, refletindo queda de 8,45% em comparação à safra passada. Com relação à qualidade da matéria-prima, o ATR acumulado registrou valor de 132,91 kg/t, crescimento de 1,39% frente ao mesmo período do ciclo passado. Já o mix de produção está em 54,12% para etanol e 45,88% para açúcar, com incremento de 0,6% para o biocombustível em relação a 2020/21.
O CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) apontou que a produtividade dos canaviais atingiu 80,9 t/ha em junho, uma retração de 11% em comparação ao mesmo mês de 2020, quando foram registradas 90,9 t/ha.
O Grupo Zilor, em parceria com o BTG Pactual, anunciou a criação de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) a fim de disponibilizar recursos para investimentos na produção de cana-de-açúcar. A iniciativa tem como foco os produtores que tenham contrato de fornecimento de longo prazo com a companhia, e recebeu uma injeção inicial de R$ 120 milhões, sendo R$ 40 milhões da Zilor e outros R$ 80 milhões do BTG Pactual.
Em relatório divulgado pela Jalles Machado, a empresa informou que teve receita bruta de R$ 1,275 bilhão na safra 2020/21, crescimento de 17,2% em comparação ao ciclo anterior. O lucro líquido foi reportado em R$ 170,4 milhões (+122,7%) e o Ebitda em R$ 709,9 milhões (+16,4%). Segundo os executivos da companhia, os resultados têm relação direta com o aumento nos volumes comercializados para o mercado externo, pois as exportações responderam por 27,0% (contra 20,6%) do total das receitas brutas. Na safra 2020/21, a empresa moeu 5,295 milhões de toneladas de cana (+3,6%), produzindo 313 mil toneladas de açúcar (+21%) e 236,6 milhões de litros de etanol (-13,2%).
Já a Copersucar informou que obteve lucro líquido de R$ 375 milhões na safra passada, um crescimento de 215% em relação a 2019/20. O faturamento do grupo no período foi de R$ 38,7 bilhões, o maior já registrado (+28,0%). No total, as usinas que mantêm a Copersucar comercializaram 5,4 milhões de toneladas de açúcar (+43%). Para o futuro, a organização planeja novos investimentos no terminal açucareiro em Santos, e também estuda novas oportunidades para a comercialização de etanol nos EUA.
Por sua vez, a CerradinhoBio anunciou investimento de R$ 206 milhões para a ampliação de sua capacidade de processamento de milho para produção de etanol. O projeto deve agregar mais 185 mil toneladas do cereal por ano ao seu atual volume. A companhia também divulgou seus resultados da safra 2020/21, obtendo lucro líquido de R$ 265 milhões, 2,4 vezes maior que o do ciclo 2019/20; receita líquida de R$ 1,7 bilhão (+41,1%) e Ebitda de R$ 635,5 milhões (+28,4%). A produção de etanol do grupo saltou 29,1%, chegando ao patamar recorde de 646,7 milhões de litros.
No açúcar, a produção acumulada até 1º de julho na safra 2021/22 totalizou 12,26 milhões de t, uma queda de 8,16% frente ao ciclo anterior, de acordo com dados da Unica.A Czarnikow reduziu as estimativas da produção brasileira de açúcar de 35,6 milhões de toneladas do relatório anterior, para 34,1 milhões de toneladas. A queda de 4,2% tem relação direta com as condições climáticas adversas na região Centro-Sul, especialmente por conta das secas.
No mês de junho, as exportações foram de 2,75 milhões de toneladas, crescimento de 1,5% frente ao mesmo mês de 2020, acumulando receita de US$ 911,94 milhões, de acordo com dados da Secex (Secretaria do Comércio Exterior). Os preços de embarque atingiram US$ 331,60/t, estando 22% superiores aos do ano passado. As exportações de açúcar da Índia na safra global 2020/21 (out-set) já acumulam 4,75 milhões de t segundo estatísticas da Aista (All India Sugar Trade Association). De acordo com a associação, a expectativa é que o país totalize embarques de 6,7 milhões de t até o final do ciclo, superando a cota subsidiada pelo governo de 6 milhões de t.
Quanto ao futuro do setor, as projeções da OECD e FAO apontam que o consumo global de açúcar deverá crescer 14% entre 2020 e 2030, atingindo aproximadamente 196 milhões de toneladas. Esse incremento é atribuído, principalmente, ao aumento da renda e urbanização de países em desenvolvimento na Ásia e ao aumento populacional na África. Por sua vez, a produção crescerá 17% na próxima década, alcançando a marca de 200 milhões de t. O Brasil deve manter a liderança na produção, respondendo por 21% da oferta mundial do adoçante, ou seja, cerca de 41 milhões de t (incremento de 12% em 10 anos); a Índia deve aparecer na segunda colocação, produzindo 35,6 milhões de t e participando de 18% do volume total. Já a Tailândia deverá produzir 13,6 milhões de t e responder por 7% do volume. Com relação às exportações, o Brasil também permanecerá na dianteira, embarcando 30,3 milhões de t.
A Coopersucar informou que deve manter o seu mix de produção nos mesmos níveis da safra anterior, conservando os patamares elevados para a produção de açúcar. Suas 33 usinas associadas devem destinar, em média, 45% da cana para a produção de açúcar (46% no ciclo passado).
No etanol, dados consolidados da Unica até 1º de julho revelam uma produção total de etanol de 9,63 bilhões de litros, volume 4,24% inferior àquele constatado no período anterior. No etanol hidratado foram produzidos 6,20 bilhões de litros (-14,15%), enquanto no anidro, 3,42 bilhões de litros (+21,11%).
Por sua vez, as vendas totais do biocombustível tiveram aumento de 9,94%, chegando a 7,08 bilhões de litros. Desse volume, 415,10 milhões de litros foram destinados para o mercado externo, refletindo queda de 15,63% nas exportações; enquanto que 6,66 bilhões de litros atenderam ao mercado doméstico, o que equivale a um aumento no consumo interno de 12,05%. Sinalização positiva da recuperação da economia e retomada dos traslados e viagens!
O Itaú BBA reduziu a sua estimativa de produção de etanol para a safra 2021/22, de 30,37 bilhões de litros para 27,71 bilhões. Desse total, 24,48 bilhões de litros (88%) devem ser provenientes da cana-de-açúcar, e os outros 3,24 bilhões (12%), do milho. O banco prevê ainda estoques finais de 1,47 bilhão de litros.
Recentemente, a usina São Martinho divulgou comunicado que deve ampliar o mix de produção para o etanol nesta safra. Segundo a companhia, 58% da cana-de-açúcar processada nesta safra será utilizada para a produção do biocombustível, contra 53% do ciclo passado. A companhia acredita que deve haver uma recuperação nos preços do combustível com a retomada econômica e a redução nos casos de Covid-19. Informou lucro líquido de R$ 927,1 milhões no ciclo passado, crescimento de 45% em relação à safra 2019/20.
De acordo com o levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), os preços da gasolina estão mais competitivos que os do etanol, considerando o limite de 70% de paridade. O biocombustível está cotado, na média nacional, a R$ 4,290/litro, enquanto a gasolina chegou a R$ 5,743/litro no momento de fechamento desta coluna. Apenas no estado do MT o etanol continua mais vantajoso que a gasolina (relação 68,94%). Sinal de alerta ao consumo!
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em agosto na cadeia da cana:
- Impactos da seca que assola os canaviais na produção de cana, açúcar e etanol;
- A retomada do consumo de etanol hidratado com a recuperação da economia. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,56/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 3,50/l.
- O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 76. Devemos observar o seu comportamento em agosto, bem como o câmbio para entender os possíveis preços da gasolina;
- Os reflexos da redução da produção nos preços de açúcar. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 17 cents/libra peso na tela de outubro de 2021;
- As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os estoques.
Valor do ATR: a safra 2021/22 teve início com valores de ATR em abril e maio de, respectivamente, R$ 1,0141/kg e R$ 1,0564/kg. Já para o mês de junho, o valor manteve a tendência de alta do início do ciclo, alcançando R$ 1,0630/kg. Dessa forma, o valor acumulado chegou a R$ 1,0441/kg.

Marcos Fava Neves é Professor Titular dos cursos de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAEASP/FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio.