As experiências de seis cooperados, reunidos em seminário online realizado pela Credicitrus no dia 22 de julho, demonstram como a citricultura vem adotando medidas para elevar seus índices de qualidade e produtividade, superando dificuldades e contribuindo para manter o Brasil na liderança do mercado mundial de suco de laranja, no qual responde por 60% da produção e 80% das exportações.
O evento, sexto episódio do programa Somar Forças, abordou o tema “Inovando na Produção de Laranja”. Os palestrantes foram os citricultores César Graf, Fernando Biagi Utuari da Silva, Leandro Aparecido Fukuda, Ricardo Franzini Krauss, Sarita Junqueira Rodas e Wlademyr Antonio Justino. O encontro teve como mediador o professor Marcos Fava Neves, da USP e da FGV, e contou com a participação dos diretores executivos da Cooperativa: Walmir Fernandes Segatto, CEO; Domingos Sávio Oriente Franciulli, diretor Comercial; Marcelo Antonio Soares, diretor de Operações; e Marcelo Martins, diretor de Tecnologia e Gestão.
Sustentabilidade e boas perspectivas
Domingos Sávio abriu o evento e deu ênfase especial ao desenvolvimento sustentável da citricultura que, para cada 2,5 hectares ocupados por pomares mantém 1 hectare de mata preservada, sendo o setor que mais se destaca nesse quesito não só no agronegócio brasileiro, mas no mundo. Também ressaltou a capacidade demonstrada pelos citricultores de enfrentar o greening por meio das medidas de manejo preconizadas pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Disse acreditar que as perspectivas são favoráveis ao bom desempenho das exportações brasileiras, em razão da menor oferta mundial e ao aumento do consumo de frutas cítricas (laranja, limão e tangerinas), ricas em vitamina C, por seu benefício à saúde neste período de pandemia. Finalizou acentuando que a Cooperativa é o grande parceiro financeiro dos citricultores, por meio de um amplo portfólio, que nada fica devendo ao sistema financeiro tradicional, disponibilizando linhas de crédito, depósitos, aplicações e demais produtos e serviços financeiros a custos competitivos.
Na sequência, o professor Marcos Fava Neves complementou os dados apresentados por Domingos Sávio, afirmando que a queda de 25,6% prevista na produção brasileira (de 387 milhões de caixas na safra 2019/2020, para 288 milhões de caixas na safra 2020/2021) associada ao aumento da produtividade dos pomares deve resultar em preços mais elevados e maior rentabilidade para os produtores. Dedicado ao estudo da citricultura há mais de 30 anos, ele chamou a atenção para o fato de que esse segmento é um dos mais valiosos do agronegócio brasileiro. Ocupando cerca de 400 mil hectares, área pequena em comparação com a ocupada por outras culturas, gera uma receita anual de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões são aplicados na manutenção dos pomares e R$ 2 bilhões em mão de obra, promovendo assim, conforme reforçou, uma ampla distribuição de riqueza. Quanto ao que a citricultura brasileira deve buscar, deixou como mensagem principal: “estabilidade com rentabilidade”. Ou seja, recomenda manter a área ocupada para produção no patamar atual, persistindo na busca de índices mais altos de produtividade.
A seguir, são sintetizadas as apresentações dos citricultores convidados.
César Graf
Diretor da Citrograf, empresa que tem na produção de mudas seu carro-chefe, com viveiros em Rio Claro, Conchal e Ipeúna, em São Paulo, e Inhambupe, na Bahia, César Graf declarou que “mudas de qualidade, produzidas em ambiente protegido, são uma das principais ferramentas para o aumento da produtividade na citricultura”.
No que diz respeito a inovações nessa área, recordou que, principalmente nos últimos 10 anos, foram desenvolvidas novas variedades de porta-enxerto e de copa, algumas das quais têm contribuído para a obtenção de plantas mais produtivas, resistentes à seca, mais tolerantes a pragas e doenças e gerando frutos de maior qualidade.
Quanto a porta-enxertos, citou como exemplo o citrandarin (híbrido de tangerineira Sunki e uma trifoliata ou um híbrido desta como o citrumelo Swingle), lançado em 1994 nos EUA: “O citrandarin 5639, recentemente introduzido no Brasil, tem revelado boa tolerância ao greening em pomares da Flórida”.
Quanto às copas, as empresas de melhoramento genético espalhadas pelo mundo vêm desenvolvendo variedades que produzem frutos com sabor e aparência melhores, sem sementes, atendendo às preferências dos consumidores. No Brasil, um exemplo é o da Murcott Olé, lançada há 10 anos, sucesso por sua resistência e produtividade.
A tendência, prevê, é a de se desenvolverem variedades que atendam às exigências da indústria, com Brix, ratio e cor melhores, em especial para o crescente mercado de sucos não congelados (NFC), que requer qualidade superior em todos os níveis.
Fernando Biagi Utuari da Silva
Citricultor em Lucianópolis, SP, onde dá continuidade à atividade de sua família nesse segmento, mantém 700 hectares cultivados com diversas variedades de citros com idades variando de um a 20 anos. Destina 90% de sua produção para a indústria de suco e os 10% restantes são colocados no mercado interno.
Manifestou-se otimista, acreditando que o aumento da demanda mundial de frutos ricos em vitamina C vai continuar beneficiando a citricultura brasileira. Mas ressalvou que essa atividade exige profissionalismo, com pulverizações semanais para manter o greening no nível mais baixo possível e possibilitar que as plantas entrem em produção já aos três ou quatro anos. Em sua opinião, o desafio do citricultor hoje é melhorar cada vez mais a condução operacional dos pomares, buscando aumentar a produção por hectare por meio de adensamento de plantio, bom manejo e, em especial, cuidando da nutrição das plantas para que o controle do greening seja mais efetivo.
Leandro Aparecido Fukuda
Engenheiro agrônomo experiente, trabalha só com citros, cultura a que se dedica sua família. Além disso, é sócio de uma empresa produtora de mudas e dirige uma firma de consultoria, que presta serviços a clientes não só no Brasil, mas na Costa Rica e está chegando ao México. Segundo ele, é necessário que o citricultor dê atenção à resiliência das plantas, uma vez que a disponibilidade de água está diminuindo não só por razões climáticas, mas também porque a outorga vem sendo dificultada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Para aumentar a resiliência das plantas, suportando melhor o estresse hídrico, recomenda aplicar calcário de 75 cm a 1 metro de profundidade na linha de plantio, declarando: “Iniciamos essa prática em 2012 e observamos que plantas submetidas a esse tratamento se sustentam melhor com menor volume de água”. Adicionalmente, conta que sua empresa de consultoria, com o apoio da USP de São Carlos, deve começar a utilizar inteligência artificial no controle da nutrição das plantas: “Estamos ingressando na agricultura 4.0, produzindo mais sem aumentar a área plantada”
A gestão operacional é outro ponto que considera vital. Algumas fazendas já estão implantando centrais de controle, para gestão de equipamentos, aplicações, uso de mão de obra etc. Relembrou que em 1989, a produtividade média brasileira era de 400 caixas por hectare, atingindo hoje 1.045 caixas. “Chegamos até aqui”, declara, “sem melhoramento genético, apenas com melhorias no manejo”. Acrescenta: “Em 2000, quando fundamos nossa empresa, tínhamos como meta levar nossos clientes a produzirem 1.000 caixas por hectare. Essa meta está ultrapassada, podemos chegar muito mais longe. Temos hoje clientes que em 25% de sua área colhem mais de 2 mil caixas por hectare. Isso demonstra que há potencial e temos muito a melhorar”.
Ricardo Franzini Krauss
Engenheiro agrônomo, representante da quarta geração de agricultores da sua família e viveirista nos municípios paulistas de Casa Branca e Santa Maria da Serra, Krauss está desde 1979 ligado à citricultura. Nos últimos sete anos, é diretor da indústria de sucos Sucorrico (que produz NFC para consumo interno, marca Xandô, e para exportação).
Segundo ele, o suco NFC é um produto nobre, que requer altos investimentos em tecnologia de produção e cadeia de frio, mas, principalmente, exige frutas de alta qualidade, com Brix, ratio, amargor e coloração adequados. “Se não tivermos fruta boa na entrada da produção, não sai suco bom. Não há milagre”. Nesse sentido, reafirmou o que foi dito pelos palestrantes anteriores: necessidade de desenvolvimento de novas variedades de porta-enxerto e copa, inclusive com mudanças na estrutura física das plantas, para possibilitar a colheita mecanizada e reduzir custos.
Chamou a atenção para um ponto que considera fundamental: a obtenção de certificações, que demonstrem que o produtor está em linha com a preservação ambiental e o respeito às pessoas em todos os níveis, pois os consumidores nos países importadores estão cada vez mais atentos à sustentabilidade.
Wlademyr Antonio Justino
Ressaltou que representava, no seminário, os pequenos produtores de citros. Mais conhecido pelo apelido de Cuca, há mais de 30 anos comercializa a produção de pequenos produtores por meio de sua empresa, Cuca Comércio de Frutas, sediada em Nova América, no município de Itápolis, SP. Há alguns anos, decidiu ir além do comércio. Passou a cultivar citros inicialmente em Itápolis e, mais recentemente, em Santana da Ponte Pensa, no noroeste de São Paulo, e em Itatinga, na região sudoeste do estado, tendo um sócio em cada uma dessas duas localidades.
O cooperado prioriza a produção de frutas de mesa, principalmente laranjas Pera Rio e Folha Murcha, limão Taiti e tangerinas Murcott e Ponkan. O restante das frutas que produz é comercializado por meio da Coagrosol – Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de Itápolis, da qual é associado. “Essa cooperativa tem ajudado muito os citricultores da região”, afirma, explicando que produz sucos NFC de laranja e limão que são comercializados no mercado interno e também exportados.
Além da atenção ao manejo para controle do greening, ele diz que a falta d’água tem sido crítica na região de Itápolis, o que exigiu a perfuração de vários poços artesianos, “sem o que seria impossível produzir”. Porém, o custo de energia tem sido alto. Por isso, está em fase final em sua propriedade a instalação de um sistema de geração de energia fotovoltaica. E conclui: “O pequeno produtor continua tendo lugar na citricultura. Desde que consiga utilizar as tecnologias, sairá mais forte após a pandemia, graças ao aumento do consumo mundial. Mas precisará de crédito e, nesse sentido, o apoio financeiro que tem recebido da Credicitrus tem ajudado muito”.
Sarita Junqueira Rodas
Advogada, filha e neta de citricultores, salientou que é preciso manter atenção aos três pilares da sustentabilidade da atividade – econômico, social e ambiental.
Do ponto de vista ambiental, insistiu no que outros participantes afirmaram: “A citricultura brasileira é a atividade que mais preserva a natureza. O citricultor faz isso desde sempre, só não sabe mostrar que faz”.
Do ponto de vista econômico, além dos custos relacionados ao manejo do greening, à água e à energia, acentuou que o custo da colheita, que representa quase 40% do total da produção, precisa ser controlado e permite melhorias. Mas observou que a colheita é um instrumento de compartilhamento de riquezas, com forte impacto nas pessoas.
Do ponto de vista social, disse acreditar que “a citricultura salvará os municípios em que atua, porque a empregabilidade é alta”. Deu destaque a dois outros pontos: as empresas citrícolas precisam cuidar da sucessão, planejá-la com antecedência; e é preciso olhar para as mulheres, agrônomas e filhas de produtores, “porque a sensibilidade da mulher é importante para a inovação e a sustentabilidade”.
Ao final, os diretores executivos da Credicitrus deixaram suas mensagens:
Marcelo Martins relembrou a história da cooperativa, fundada em 1983, por 24 produtores rurais, todos ligados à produção de citros: “A citricultura faz parte de nossa história desde o primeiro dia, por isso entendemos suas necessidades”.
Marcelo Soares reafirmou que a Credicitrus, por sua solidez, está preparada para atender o cooperado em tudo que necessitar. Informou que, no primeiro semestre, a Cooperativa teve “desempenho espetacular”, registrando crescimento superior ao do primeiro semestre do ano passado em operações de crédito, captações e sobras.
Walmir Segatto encerrou o evento elogiando a qualidade deste sexto episódio: “Tivemos mais de 1.600 participantes, um número impressionante, que confirma a aceitação deste novo modelo de comunicação”. Concluiu afirmando: “As pessoas, interna e externamente, são o tema primordial em nossas preocupações. Estamos hoje com 630 pessoas trabalhando em home office, com nível de tecnologia inédito, o que demonstra a velocidade com que nos adaptamos a este período de isolamento”.
Assista à gravação completa do webinar: