A força transformadora do cooperativismo foi o tema central do décimo quinto seminário on-line da Jornada SOMAR Forças da Credicitrus, o primeiro de 2021. Abordando “O Protagonismo das Cooperativas em 2021 “, o evento foi realizado no dia 28 de janeiro e transmitido ao vivo pelas redes sociais da Cooperativa. Teve como palestrantes o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas; o presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Central Aurora Alimentos, Neivor Canton; o presidente executivo da Coopercitrus – Cooperativa de Produtores Rurais, Fernando Degobbi; e o presidente executivo da Credicitrus, Walmir Fernandes Segatto. O mediador do encontro e dos demais episódios da série foi o cooperado Marcos Fava Neves, professor da USP e da FGV.

Na abertura, a gerente de Relacionamento da Credicitrus, Karina Andriazi Cavazane, explicou que o objetivo da Jornada SOMAR Forças, instituída em 2020 em razão da pandemia de Covid-19, é compartilhar conhecimentos e experiências sobre os temas mais variados de interesse dos associados, tendo como palestrantes cooperados e convidados especiais. Ressaltou que essa é uma ação que reforça o papel da Credicitrus na sociedade: “Somos uma cooperativa com propósito. O propósito é o porquê de nossa existência. E esse porquê é sermos o principal meio de construção da prosperidade de cada cooperado, independentemente de sua área de atividade”. Completou: “Ao gerar essa prosperidade, beneficiamos não só cada associado, mas sua família, seus empregados e os negócios locais, contribuindo para o desenvolvimento das comunidades em que atuamos”.

Na sequência, o professor Marcos Fava Neves enfatizou que os 14 webinars realizados em 2020 tiveram um público de aproximadamente 25 mil participantes, mais de 1.700 por evento, número que seria praticamente inviável atingir com encontros presenciais. Chamou a atenção para o fato de que todos os seminários estão gravados no canal da Credicitrus no Youtube, em uma playlist, “compondo uma valiosa biblioteca virtual, com mais de 20 horas de duração, abordando os temas mais diversos, desde empoderamento feminino, impacto do digital nas empresas e perspectivas para os diversos segmentos do agronegócio”.

Resumo das apresentações

Márcio Lopes de Freitas – Relatouque, depois de ser eleito e reeleito para a presidência do Conselho da OCB, foi contratado como seu presidente executivo. Explicou que a entidade é uma organização privada, e não pública, a serviço dos interesses das cooperativas brasileiras: “Fazemos lobby no bom sentido, estreitando o relacionamento do cooperativismo com os três poderes, bem como com empresas, associações e outros organismos nacionais e internacionais”.

O sistema OCB, além de sua estrutura central sediada em Brasília, é representando institucionalmente pelas organizações estaduais instaladas em todas as unidades da federação (como a OCESP, em São Paulo) e tem hoje cerca de 6.600 cooperativas registradas, “das quais 4.900 se mantêm ativas, com movimentação econômica”, informou o presidente. Essas cooperativas, disse, somam 15,5 milhões de associados: “Se cada associado tiver três dependentes diretos, em média, teremos 60 milhões de pessoas beneficiadas pelo cooperativismo, ou seja, 30% da população brasileira”.

Quanto aos desafios a vencer, no atual cenário de pandemia e no que virá depois, chamou atenção para as mudanças que estão ocorrendo na humanidade: “As novas gerações querem coisas diferentes, maneiras diferentes de viver”. A seu ver, o cooperativismo, como organização de pessoas, precisa liderar esse processo, porque oferece o que essa geração pede: o valor da solidariedade, da união, da participação e da meritocracia, de ser mais e ter menos, de não ser proprietário de coisas, mas ser usuário delas. Acrescentou: “Temos que tocar afinados com a demanda da sociedade, trabalhar as lideranças e oferecer treinamentos e capacitações para que cooperados e colaboradores entendam os diferenciais do modelo cooperativo”.

Finalizou exaltando os exemplos das cooperativas que já trilham esse caminho, por meio de ações como a Jornada SOMAR Forças: “O cooperativista Rubens de Freitas, meu pai, dizia que cooperativa é uma planta que nasce muito melhor de muda do que de semente, ou seja, nasce muito melhor pelo exemplo, pela prática, por se ver o que é bem feito e dá certo, do que só pela semeadura de ideias”.

Fernando Degobbi – Explicou de início que a Coopercitrus, hoje com 37 mil cooperados, ainda carregando o “citrus” no nome por sua origem histórica, nasceu em Bebedouro, SP, de onde se expandiu para dezenas de municípios paulistas e de Minas Gerais e hoje tem uma unidade em Goiás, onde inaugurará uma segunda, em Cristalina, que será a primeira loja-conceito do Campo Digital Coopercitrus.

A Coopercitrus tem procurado fazer diferença nas atividades do produtor rural por meio de agricultura de precisão ou “agricultura de metro quadrado”, disse Degobbi, acrescentado que a cooperativa tem investido muito em CRM, farramenta que dá uma visão clara do que o cooperado tem e precisa. Acentuou: “Temos hoje mais de 50 mil propriedades georreferenciadas, e mais de 80% delas são de pequena e média escala”. Essas propriedades, explicou, geram, na área de insumos de custeio agrícola, um valor de negócios em torno de R$ 22 bilhões, representando um potencial muito grande: “Temos que criar um modelo com tecnologia e proximidade do produtor para entregar mais valor e ele. Temos hoje na Coopercitrus o que chamamos de jornada de valor, que consiste em estarmos junto do cooperado, buscando entender cada etapa do seu processo de produção e o que podemos fazer para melhorar sua atividade”.

Deu um exemplo: “Um dos nossos desafios é fornecer ao produtor os insumos com prazo de pagamento necessário ao ciclo de produção e juros compatíveis com a atividade agrícola. Para isso, desenvolvemos um processo de intercooperação com a Credicitrus. O pedido nasce em nossa cooperativa e é finalizado na Credicitrus, onde o produtor toma o recurso com a nossa nota de compra. Com essa iniciativa, já foram realizados R$ 400 milhões em negócios beneficiando os cooperados”.

Outro exemplo, segundo Degobbi, é o sistema de entrega de diesel nas pequenas e médias propriedades dos cooperados; “Chegamos em 2020 a 103 milhões de litros entregues, o que nos coloca na posição de quarto maior TRR (Transportador Revendedor Retalhista) do Brasil”. O TRR opera com licença da Agência Nacional de Petróleo e representa uma forma de apoio valiosa para o produtor rural, atuando em uma área que não representa interesse para as empresas de distribuição, que teriam muito pouco lucro com essa atividade.

Para finalizar, Degobbi afirmou que três fatores devem diferenciar as cooperativas neste ano para que ampliem seu protagonismo: intercooperação, integração de atendimento e principalmente propósito.

Neivor Canton – O presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Central Aurora Alimentos informou que esta é composta por 11 cooperativas singulares (oito em Santa Catarina, uma no Rio Grande do Sul, outra no Paraná e mais uma no Mato Grosso do Sul), reunindo 72 mil famílias de cooperados, em sua grande maioria pequenos e médios produtores rurais.

Segundo ele, esse modelo de central é incomum no Brasil, e explicou por que foi adotado: “Tínhamos aqui, no Oeste de Santa Catarina, cooperativas singulares que individualmente não teriam capacidade e especialmente capital para iniciar empreendimentos industriais. Essas cooperativas estavam cedendo espaço e seus produtores para os grandes grupos industriais do agro brasileiro em operação no estado. Com isso, às cooperativas acabavam restando os menores produtores, os menos favorecidos. Isso começou a chamar a atenção, pois os menores também queriam participar desse processo e evoluir”.

Assim, há 52 anos nasceu a Aurora, que, em 2020, embarcou para o exterior 1.851 toneladas diárias de produtos, além de 4.118 toneladas diárias de alimentos para o mercado interno. O portfólio da cooperativa soma mais de 800 produtos entre derivados de suínos, frangos, lácteos, massas e outros itens.

No ano passado, a Aurora exportou quantidades expressivas principalmente para a China, diz Canton: “A China, que é o maior produtor mundial de suínos, perdeu metade de seus plantéis em razão da peste suína africana. Com isso, ficou quase insaciável ao longo deste ano. Mas temos alguns riscos ao atender mercados externos de forma concentrada. Isso aconteceu algum tempo atrás, quando a Rússia ocupava o espaço de grande importadora de proteína animal do Brasil, especialmente suínos e frangos, e hoje é quase autossuficiente nesses segmentos, deixando um vazio bastante grande, que agora é ocupado pela China”.

Fazer com que pequenos produtores tivessem a mesma oportunidade de médios e grandes de fazer sua produção chegar à mesa de chineses, japoneses, norte-americanos e europeus parecia algo impossível, afirma Canton: “Só o sistema cooperativo me parece capaz de se preocupar em viabilizar esses pequenos”.

A Aurora processa suínos em oito plantas, aves em sete plantas e ainda tem indústrias de lácteos. O processo industrial exige investimentos grandes para que se tenha plantas capazes de competir com o mundo, afirma Canton: “Hoje sofremos auditoria on-line da China, da Europa e do Japão. Entram nas nossas fábricas, fazem uma devassa e buscam saber como atuamos”. Adicionalmente, a cooperativa também vem reunindo várias certificações de qualidade, rastreabilidade e segurança sanitária: “Temos que fazer muito melhor do que eles fazem. Tivemos oportunidade de conhecer plantas industriais em países da Europa e ver que há lá fábricas centenárias em condições que seriam consideradas precárias no Brasil. Por isso, temos que ter fábricas muito melhores, mais tecnificadas, qualificadas e certificadas para termos o direito de disputar cotas em mercados externos”.

Canton deu ênfase especial ao apoio que a Aurora dá aos pequenos produtores, contando para isso com um quadro técnico formado por cerca de 500 profissionais, entre médicos veterinários, zootecnistas, técnicos de nível médio e engenheiros agrônomos. Explica: “Dos nossos 72 mil associados, 30 mil já passaram por algum programa de qualidade em sua propriedade. Começamos com a adoção do 5S na propriedade rural, com o programa “De Olho na Qualidade”. Depois passamos para uma segunda etapa, na qual o produtor é ensinado a fazer gestão da propriedade, e, por fim, passamos para times de excelência, quando os produtores alcançam um nível de qualificação top. Esses produtores recebem, para seus empreendimentos, a qualificação Propriedade Rural Sustentável Aurora. Já estamos passando de 20 mil propriedades qualificadas, nas quais os produtores atendem aos melhores requisitos de produção que se pode imaginar”.

Mas o processo não está completo, diz Canton: “Em termos de protagonismo do cooperativismo, estamos na metade do caminho. Há milhares de famílias que os programas de qualidade ainda não alcançaram, mas vamos entregar isso até completarmos esse ciclo de qualificação, transformado esses cooperados em empresários rurais, porque é muito mais difícil fazer a gestão de uma propriedade rural do que de um pequeno estabelecimento comercial, por exemplo”.

Outro desafio é aumentar a visibilidade da Aurora como cooperativa: “Há duas décadas, fizemos uma pesquisa e apenas 1% de nossos clientes pesquisados sabiam que éramos uma cooperativa. Na última pesquisa, realizada no ano passado, 12% já sabiam que somos uma cooperativa, um número que ainda precisa crescer e muito”.

Walmir Segatto – O presidente executivo da Credicitrus acentuou que um dos grandes desafios a vencer para que o cooperativismo continue fazendo diferença é a comunicação, descobrir formas de atingir o público – cooperados, colaboradores e os demais membros da sociedade – para que conheça melhor este modelo de negócios. Afirmou: “Da mesma forma que a campanha agro é pop, agro é tec, agro é tudo pegou, utilizando um canal poderoso, temos que trabalhar em formas de comunicação que sensibilizem o público”.

Segatto considera fundamental o aumento do conhecimento sobre o cooperativismo financeiro, que hoje detém uma participação de 5% a 7% no Sistema Financeiro Nacional em depósitos e operações de crédito, para que ocupe uma fatia maior do mercado: “Já existe uma provocação do Banco Central nesse sentido, de que temos potencial para, até 2022, fecharmos com 22% de participação. Roberto Campos Neto, quando assumiu a presidência do Bacen, enxergou que o cooperativismo no ramo de crédito pode ter um protagonismo maior, uma vez que há postos de atendimento de cooperativas financeiras em praticamente todos os 5.700 municípios brasileiros e em muitos deles são a única instituição financeira presente”.

Outro ponto ressaltado por Segatto é a importância da proximidade social: “A pandemia está demonstrando essa necessidade de forma cada dia fica mais evidente. Esse protagonismo da proximidade social, que é muito forte nas cooperativas em geral – ainda que hoje, por meios virtuais, nos vejamos apenas pela tela de um celular ou computador, e não pessoalmente – representa uma oportunidade de mostrar como podemos fazer diferença nas comunidades, alcançando projetos locais e regionais”.

Ainda com respeito às comunidades, afirmou: “O entendimento expresso pelo Fernando Degobbi, qualificado como Jornada de Valor do cooperado, ocorre de forma diferente nas cooperativas de crédito, em comparação com o que se passa no mercado financeiro convencional. A cooperativa agrega valor às comunidades por meio das sobras que distribui”.  Explicou: “Neste ano que passou, a Credicitrus obteve um resultado próximo a R$ 210 milhões, representando o volume de sobras que será destinado ao Conselho de Administração para distribuição aos cooperados. Foi um crescimento de 20% durante a pandemia. Nesse período, já figurando, como singular, entre as 50 a 60 maiores instituições financeiras do Brasil, nossa cooperativa registrou aumento de 37% em seus ativos. Com isso, a mensagem que transmitimos é a de que estamos crescendo e devolvendo valor para a própria comunidade”.

Segatto vislumbra um grande desafio: “É o open banking, que no nosso caso parece que será uma oportunidade, pois vai nos colocar em posição de sermos comparados, como cooperativas, com os bancos em tarifas, taxas e custos. Isso vai exigir também que nos aperfeiçoemos, porque o sistema financeiro como um todo está se aperfeiçoando. Mas será a oportunidade de colocarmos em evidência os grandes diferenciais expressos não só pelos indicadores econômico-financeiros. As cooperativas em geral praticam juros mais baixos. Na Credicitrus, não cobramos tarifas, o que já é uma vantagem competitiva. As sobras podem entrar nesse cálculo como forma de redução de custos ou de repartição do resultado entre os associados”.

Outra oportunidade, de acordo com Segatto, está na formação de pessoas, nos formatos que podem ser adotados para a cultura cooperativista seja para cooperados, seja para colaboradores, seja ainda para as comunidades e a sociedade em geral. No que diz respeito aos funcionários, disse: “Temos o desafio de continuar nos formatos de teletrabalho por mais algum tempo. Então, nesse cenário, como dar cursos, treinar, manter um clima organizacional positivo e se preparar para transformar em crescimento as vantagens do cooperativismo?  São desafios que temos que vencer para alcançarmos o alto market share que o cooperativismo tem em alguns países desenvolvidos, como Estados Unidos e Canadá, onde os diferenciais do modelo já estão consolidados”.

Concluiu: “Eu vejo 2021 de forma muito positiva, entendendo que o cooperativismo está na vanguarda desse protagonismo na sociedade, por seus diferenciais no relacionamento e ainda nas oportunidades de intercooperação”.

Gravação disponível

A gravação integral do décimo quinto episódio da Jornada SOMAR Forças, resumido acima, está disponível abaixo:

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