Marco Aurélio Borges de Almada

Os números que definem o cooperativismo financeiro no Brasil são gigantescos. Com mais de 3,6 milhões de cooperados, dos quais 3,1 milhões são pessoas físicas, o Sistema Brasileiro de Cooperativas de Crédito (Sicoob) lidera o setor. São mais de 2.500 postos de atendimento espalhados por 1.524 municípios, sendo que em 198 deles a única instituição financeira presente é uma cooperativa ligada ao Sicoob, o que demonstra como esse modelo de negócios leva o desenvolvimento aonde é mais necessário em termos de carência econômica e social.Esse enorme conjunto de cooperados e suas respectivas cooperativas de crédito contam com o apoio e os serviços do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), que iniciou suas operações em 1996 e, desde então, vem crescendo de forma consistente, agregando continuamente novos produtos, serviços e facilidades. É, assim, o braço operacional do Sicoob, viabilizando o bom funcionamento de todas as cooperativas do sistema, dentre as quais a Sicoob Credicitrus é a maior.

Em entrevista ao CLIC, o presidente do Bancoob, Marco Aurélio Borges de Almada Abreu, ou simplesmente Almada, como é mais conhecido no mercado, fez um balanço da trajetória histórica do banco, dos fatores que determinaram seu sucesso crescente e finalizou apresentando as novidades que devem tornar o cooperativismo financeiro ainda mais vantajoso no País. Almada acumula 35 anos de experiência no setor bancário. Iniciou sua carreira em 1982, no Credireal, e, em 1998, ingressou no Bancoob, então em seu primeiro ano de operações, no qual ocupa a presidência desde março de 2009.

Inicialmente, explicou que o sucesso crescente do Bancoob, que neste ano completa 20 anos de operações, deve-se ao empenho de sua diretoria em sempre procurar oferecer às cooperativas produtos e serviços que atendam às necessidades de seus cooperados e, desse modo, as tornem competitivas no mercado financeiro. Adicionalmente, atribui esse sucesso ao modelo de governança praticado pelo banco, alinhado com os princípios cooperativistas e de acordo com as regras do Banco Central.

Marcos históricos

Almada alinha cinco fatos, em ordem cronológica, que considera marcantes na trajetória do Bancoob:

  1. Integração das cooperativas ao Sistema de Pagamentos Brasileiro, ao qual estão vinculados todos os bancos do País, porém com custos bem mais baixos do que os praticados pelas demais instituições financeiras. Isso também contribuiu para a independência financeira do Bancoob.
  2. Acesso a recursos financeiros para financiar as atividades dos cooperados, principalmente de crédito rural, uma vez que as cooperativas do setor, em sua fase inicial, atendiam predominantemente os produtores rurais.
  3. Liderança na criação e reconstrução da plataforma tecnológica do Sicoob, o SisBr, reconhecido como o melhor do setor de cooperativismo financeiro.
  4. Construção de um portfólio de produtos e serviços que permitem às cooperativas serem as principais, quando não as únicas, instituições financeiras com que os cooperados se relacionam.
  5. E, para completar, está em curso o desenvolvimento de um conjunto de mecanismos operacionais alinhados com a revolução digital – o que inclui soluções e aplicativos para smartphones e tablets, portanto em sintonia com o que há de mais atual não só no Brasil, mas no cenário financeiro internacional.

Livre admissão traz mudanças

Após suas explicações inicias, Almada respondeu às seguintes perguntas:

CLIC – O portfólio de produtos e serviços do Bancoob contempla de forma especial o setor agropecuário. Isso porque as cooperativas financeiras do País, em boa parte, foram fundadas como cooperativas de crédito rural. Porém, com o estímulo do Bacen, muitas passaram ou estão passando a ser de livre admissão. Como isso tem afetado o Bancoob e que perspectivas abre para o cooperativismo dentro do sistema financeiro?

Almada – O Bancoob vem acompanhando a evolução do cooperativismo financeiro brasileiro, em particular a do Sicoob.

Assim, além de preservar e aprimorar as soluções voltadas aos produtores rurais e para a parcela de cooperados assalariados dos setores privado e público (origem do Sicoob), o banco tem desenvolvido produtos e serviços demandados pelos novos segmentos que passaram a compor os quadros sociais das cooperativas, notadamente pequenas e médias empresas e profissionais liberais. Nessa direção, mais recentemente, ao lado da oferta do consórcio Sicoob, destacam-se a qualificação do portfólio de cartões, a ampliação dos convênios de arrecadação (tributos em particular), a reformulação da cobrança bancária, a estruturação de uma operação própria de adquirência (maquininha de cartões Sipag) e a organização das atividades de seguros, com a constituição de uma seguradora do ramo vida e previdência controlada pelo Sicoob (por meio do Bancoob).

CLIC – O que o Bancoob tem feito, por outro lado, para manter a qualidade e o volume de apoio proporcionado ao produtor rural?

Almada – O crédito rural está em nosso DNA, e garantir funding para o atendimento das necessidades dos cooperados é compromisso permanente do banco. Para isso, atuamos fortemente no mercado interbancário captando recursos de um conjunto de bancos parceiros; valemo-nos dos mecanismos de equalização de taxas (diferença entre custo de captação e as taxas de aplicação de recursos de nossos próprios cooperados) providos pelo Tesouro Nacional; dispomos da Poupança Rural em parceria com as cooperativas e oferecemos a opção das letras de crédito do agronegócio (LCA), entre outras fontes.

Inúmeros foram também os avanços em nossos processos, de modo que hoje conseguimos responder com agilidade e qualidade os pleitos encaminhados pelas nossas cooperativas.

Permanecemos sempre atentos às mudanças de cada ciclo produtivo, para manter as cooperativas em condições de atender integral e tempestivamente às demandas financeiras dos seus cooperados.

CLIC – Quais os projetos do Bancoob para fortalecer sua presença no mercado de pessoas físicas em geral? Que produtos e serviços planeja agregar a seu portfólio? Há datas previstas para isso?

Almada – Durante o segundo semestre de 2017 lançaremos a solução de fundos de investimento voltados ao varejo (DI e Multimercado), além de um fundo de investimento imobiliário.

O Tesouro Direto igualmente passará a ser uma opção de investimento até o final deste ano. Mais adiante, o Sicoob contará também com o produto câmbio em seus múltiplos desdobramentos.

Nossos aplicativos voltados a produtos e serviços também serão objeto de significativas evoluções, facilitando o relacionamento operacional com os cooperados, com maior autonomia e segurança para estes, o que contribuirá para atrair o público jovem.

CLIC – E no segmento de pessoas jurídicas, quais os seus planos?

Almada – O destaque, aqui, vai para a revolução da cobrança bancária (processos, precificação

etc), hoje já integrada ao sistema de protesto on-line, e que até o final deste ano figurará entre as mais completas e acessíveis soluções de pagamento do sistema financeiro nacional. Contudo, embora já bem atrativa, é uma ferramenta de prestação de serviços que poucos cooperados conhecem ou acessam.

Os cartões corporativos também terão melhorias que auxiliarão o controle de gastos das empresas, contemplando plataforma customizada para a administração mais eficaz das transações e dos limites.

Por fim, estamos trabalhando para que, ainda em 2017, nossos cooperados PJs e prestadores de serviços possam melhor gerenciar e monitorar seu faturamento no âmbito da adquirência (maquininha Sipag), além de agregar novos canais (meios) de aceitação.

CLIC – Para completar, como o senhor visualiza o futuro do cooperativismo financeiro no Brasil?

Almada – O cooperativismo financeiro no Brasil, embora jovem, já tem histórico consistente de expansão. Mas as oportunidades de um maior protagonismo são inúmeras. Além de ampliar o relacionamento operacional com os atuais cooperados – para isso, notadamente no Sicoob, as condições já estão dadas -, reunimos todas as condições para atrair um número maior de sócios, tanto de pessoas físicas como jurídicas, sendo que o maior mercado situa-se nas 32 regiões metropolitanas do país, onde a nossa presença ainda é irrelevante.

Considerando que o quadro normativo e as condições de mercado nos favorecem, basta que trabalhemos com mais afinco – atitude é a palavra de ordem -, e nesse sentido a Sicoob Credicitrus é o exemplo a ser seguido!

Números expressivos

Os principais indicadores de desempenho do Sicoob, apurados em 31 de dezembro de 2016, demonstram a grandeza do cooperativismo de crédito brasileiro:

 

Indicador

R$ bilhões

Operações de crédito

38,4

Operações de crédito rural

11,5

Cartões – faturamento

14,6

Recibos de Depósito Cooperativo

30,7

Poupança – saldo

3,2

 Ainda merecem destaque outros números:

  • 65.647 participantes em planos de previdência privada.
  • Mais de 40 mil cotas ativas de consórcios, representando R$ 2,2 bilhões de carteira administrada.
  • Mais de 105 mil máquinas de cartões SIPAG, em 96 mil estabelecimentos.

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