Seguem nossas reflexões dos fatos e números da cana em agosto/setembro e o que acompanhar em outubro. Na cana, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), desde o início da safra até 1° de setembro, a moagem acumulada de cana na região Centro-Sul alcançou 392,6 milhões de toneladas, uma redução de 5,8% em comparação com o mesmo período do ciclo passado. Do total de matéria-prima processada, 46,3% foram utilizadas para a produção de açúcar e os outros 53,7% para a produção de etanol.

A Canaplan revisou sua estimativa de moagem para a região Centro-Sul, estando agora entre 520 e 530 milhões de toneladas, 15% a menos em relação ao ciclo passado. Além disso, o atual ciclo deve ser mais curto, com quase 80% da colheita sendo realizada até novembro. Já a Job Economia aponta para uma moagem de 533 milhões de toneladas para a safra atual no Centro-Sul, 7,5% a menos que sua estimativa prévia e 12% inferior quando comparada à temporada passada. Com isso, a consultoria estima que a produção de açúcar será de 33,4 milhões de toneladas (-13%) enquanto a de etanol deve totalizar 25,1 bilhões de litros (-10%).

Se não bastasse as dificuldades enfrentadas pelo produtor de cana-de-açúcar neste ano, a Noaa (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) reportou que há 70% de chances de os canaviais brasileiros enfrentarem um La Niña nos próximos meses. Precisamos ficar de olho, este foi o principal limitante dos resultados da safra atual.

A Tereos obteve a certificação em quatro de suas unidades para a comercialização de i-RECs, créditos de carbono atrelados à geração de eletricidade, que são ofertados no mercado internacional voluntário. Tal certificação atesta que cada megawatt-hora gerado evitou a emissão de 60 mil toneladas de carbono. A empresa francesa poderá disponibilizar ao mercado 1,75 milhão de i-RECs.

A BR Distribuidora e a Coopersucar anunciaram a criação da Vibra Energia, uma joint venture para atuar na comercialização de combustíveis e energia. O acordo inclui a produção de 5,0 bilhões de litros de etanol pela cooperativa, enquanto a distribuidora deve movimentar 6,5 bilhões de litros de etanol. A empresa ainda está sob avaliação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A Vibra Energia tem metas audaciosas: alcançar crescimento de 30% nas receitas até 2030, e estar entre as cinco maiores comercializadoras de energia elétrica do Brasil até 2025.

A Zilor apresentou seus resultados financeiros referentes ao primeiro trimestre do ciclo 2021/22. A receita líquida da empresa alcançou R$ 754,6 milhões, um crescimento de 41% em comparação à safra passada. Já o lucro líquido teve um salto de R$ 5,2 milhões para R$ 197,4 milhões, entregando uma margem líquida de 26%. Tanto o aumento do preço do etanol como a maior demanda por açúcar impulsionaram tais resultados, apesar da moagem de cana ter sido 0,9% menor, totalizando 3,9 milhões de t processadas.

No açúcar, na segunda quinzena de agosto, a produção de açúcar apresentou leve avanço, chegando a 2,95 milhões de toneladas, frente aos 2,93 milhões de toneladas registrados no mesmo período do ciclo 2020/21 (+0,7%). No acumulado, a produção de açúcar chegou a 24,28 milhões de toneladas, redução de 6,6% frente aos 25,99 milhões de toneladas registrados na safra passada.

Os embarques de açúcar no mês de agosto somaram 2,55 milhões de toneladas, uma queda de 18,7% frente ao mesmo mês de 2020. Por sua vez, o faturamento com a venda do adoçante se manteve estável (+0,2%), alcançando US$ 865,49 milhões. Os preços estão 23,2% maiores que no mesmo período de 2020. Entre janeiro e agosto de 2021, exportamos 17,83 milhões de toneladas de açúcar, alta de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

No âmbito dos preços, entre julho de 2020 até o início de setembro de 2021, a valorização dos contratos de açúcar para 2021/22 foi de US$ 39 por tonelada, enquanto contratos para 2022/23 tiveram acréscimo de US$ 52 por tonelada. As preocupações sobre as condições da próxima safra – frente aos impactos do clima na atual – tem preocupado o setor e levado à valorização da commodity nos mercados globais.

Até o final desta safra, segundo a StoneX, a produção de açúcar deve ficar em 34,6 milhões de toneladas, 10% menor que a safra anterior. Como resultado, devemos ter um déficit de 1 milhão de toneladas no mercado mundial, contra o superávit anterior de 1,7 milhão. Na Índia, a StoneX prevê que cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar virem etanol na safra 2021/22. Já estimativas divulgadas pela Alvean, trading que pertence à Coopersucar, indicam uma produção de 31,5 milhões de toneladas nesta safra, redução de 17,1% em comparação com a passada. A Alvean também aponta que o déficit global de açúcar na safra 2021/22 deve ficar entre 5 e 6 milhões de toneladas, volume bem superior aos 3,8 milhões de toneladas estimado pela ISSO (Organização Internacional do Açúcar).

No etanol, a produção registrou 2,23 bilhões de litros na segunda quinzena de agosto, com um saldo acumulado de 18,65 bilhões de litros, sendo 7,15 bilhões de litros de etanol anidro (38,3%) e 11,49 bilhões de litros de etanol hidratado (61,7%). Do total fabricado, 1,29 bilhão de litros (6,9%) do biocombustível foi produzido a partir do milho.

Em agosto, as usinas do Centro Sul venderam 2,45 bilhões de litros de etanol, retração de 9,8% em relação ao mesmo mês da safra 2020/2021. O hidratado responde por 1,43 bilhão de litros, redução de 11,7%, e anidro aumentou 11,4%, com 887,10 milhões de litros. Já as vendas externas de etanol no mês de agosto totalizaram US$ 45,25 milhões, valor quase 70% inferior àquele constatado no mesmo mês de 2020.

As vendas de etanol desde o início da safra (1º de abril até 1º de setembro) cresceram 13,1% em relação ao mesmo período da safra passada. 731 milhões foram destinados à exportação (queda de 33,6%) e 11,49 bilhões ao mercado interno (aumento de 6,8%).

No primeiro semestre, o consumo de etanol hidratado cresceu 2,7% (9,21 bilhões de litros), a gasolina 8,1% (17,8 bilhões de litros) e o diesel aumentou 9%, chegando a 5,1 bilhões de litros. O etanol teve 46,4% da participação na matriz do ciclo Otto (eram 47,2%). A participação dos biocombustíveis (etanol e biodiesel), no total, é ao redor de 25%, e o MME (Ministério de Minas e Energia) quer chegar a 30% até 2030. A StoneX prevê 24,9 bilhões de litros de etanol no ciclo 2021/22, queda de 10,4% em comparação com o ciclo passado.

No mês de julho, o consumo de combustíveis teve crescimento de 10,7% em comparação com o mesmo mês de 2020, segundo a ANP e Unica, totalizando 4,47 bilhões de litros. Ainda assim, estamos abaixo do registrado em julho de 2019, no período pré-pandemia (-1,35%). Um ponto de destaque é que o etanol apresentou a menor participação na matriz energética desde abril de 2018, com apenas 42,6% do total, contra 46,1% em julho de 2020 e 48,0% em julho de 2019.

No primeiro semestre de 2021, a produção de carros no Brasil alcançou 1,15 milhão, 22% a menos que no mesmo período de 2019, antes da crise instalada pela covid-19. Além das restrições de deslocamento, mudanças no comportamento do consumidor têm levado à uma maior propensão para a utilização de serviços e app para deslocamento, fora a inflação incrível nos preços dos automóveis.

Como parte da meta de reduções de gases do feito estufa, o governo dos Estados Unidos declarou que pretende se tornar líder na oferta de veículos elétricos, sendo que estes devem representar 50% das vendas até 2030. Dessa forma, a StoneX projetou que a frota de veículos elétricos americana deve crescer 253%, chegando a 5 milhões. Esse cenário deve afetar o consumo tanto de gasolina como de etanol no país, o que pode abrir espaço para exportações.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em outubro na cadeia da cana:

  1. As novas projeções indicam entre 520 a 530 milhões de toneladas de cana. O consumo do etanol e açúcar estão acima da safra passada. Ou seja, maior demanda, menor oferta e safra terminando antes. Serão grandes os desafios no final do ano com os impactos da seca que assolou os canaviais;
  2. O que acontecerá com o consumo de etanol neste último trimestre do ano, no balanço dos preços entre o hidratado e a gasolina. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,94/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 3,98/l. Devem continuar altos com a falta de cana;
  3. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 72. Devemos observar o comportamento em outubro, bem como o câmbio para entender os possíveis preços da gasolina e da paridade e os efeitos no consumo;
  4. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 19,9 cents/libra peso na tela de outubro de 2021. Um preço muito alto pode não ser bom, colocando em risco a velocidade da Índia na adoção do etanol e trazendo de volta produções em outros locais, este é o receio neste momento;
  5. A performance das exportações de açúcar em setembro e outubro e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo elevados.

Valor do ATR: a safra 2021/22 teve início com valores de ATR em abril e maio de, respectivamente, R$ 1,0141/kg e R$ 1,0564/kg. Já para o mês de junho, o valor manteve a tendência de alta, alcançando R$ 1,0630/kg. Em julho, o indicador voltou a crescer, atingindo R$ 1,0878/kg, comportamento que se manteve em agosto, chegando a R$ 1,1425/kg. Assim, o valor acumulado até agora é de R$ 1,0765/kg. Ao final desta safra pode ainda chegar a algo entre R$ 1,13 a 1,15.

Marcos Fava Neves é Professor Titular dos cursos de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAEASP/FGV em São Paulo. Especialista em  planejamento estratégico do agronegócio.

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