O cooperativismo no Brasil é quase bicentenário. Por isso é importante conhecermos a origem e os princípios desse modelo de negócio que transforma a vida de pessoas e empresas há anos. Afinal, ele preza não somente pelos ganhos econômicos, mas também contribui para o desenvolvimento da sociedade.

Atualmente, as cooperativas buscam inovações a fim de aquecer o segmento e atrair mais cooperados, sem abrir mão dos seus valores e preceitos. Desde o começo, essas instituições são conhecidas por priorizar interesses e bem-estar coletivos.

Fique por dentro da evolução do cooperativismo no Brasil e no mundo.

A primeira cooperativa do mundo

O cooperativismo como conhecemos hoje surgiu em 1844, no município de Rochdale-Manchester, na Inglaterra. O nome do local serviu de inspiração para denominar a primeira cooperativa do mundo: Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale.

Tinha inicialmente 28 cooperados (trabalhadores) e almejava adquirir mercadorias essenciais para a época, como alimentos, medicações, velas, querosene e outros, por um preço acessível. O grupo comprava tais itens em grande volume e os dividia de forma igualitária para todos os integrantes.

A instituição progrediu e captou cada vez mais cooperados e, em 1867, ela apresentava um capital social de mais de 150 mil libras. Devido ao sucesso da cooperativa inglesa, novos modelos surgiram pelo mundo, inclusive na América Latina.

A história do cooperativismo no Brasil

No Brasil, o cooperativismo nasceu em 1889, quando trabalhadores com propósitos em comum se agruparam para fundar a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais.

O objetivo era semelhante ao da primeira cooperativa da Inglaterra. Os integrantes tinham o intuito de simplificar o acesso às mercadorias agrícolas. Essa prática funcionou tão bem que disseminou novas cooperativas por todo o país. Em 1902, foi constituída a primeira cooperativa de crédito do Brasil: a Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, que existe até hoje.

Em 1906, nasceram as primeiras cooperativas agrícolas, formadas por produtores rurais e imigrantes. Seis décadas depois foi instituída a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que determina e respalda as demandas e interesses do cooperativismo.

Por ser uma instituição que presta suporte às sedes fundadas no Brasil, a OCB é:

  • uma sociedade civil, sem fins lucrativos;
  • neutra em temas de cunho religiosos e políticos;
  • responsável por cuidar das normas legais e das necessidades jurídicas do movimento.

A Política Nacional de Cooperativismo

Foi em 1971 que as cooperativas brasileiras passaram a ter uma lei específica, a Política Nacional do Cooperativismo (Lei 5.764/71), que aborda os seguintes pontos:

  • descrição do termo (Artigo 3º e 4º);
  • objetos e gêneros de serviços prestados (Artigo 5º), que também veda a utilização do termo “instituição bancária” para mencionar as cooperativas;
  • limite mínimo de 20 pessoas físicas para ser denominada como cooperativa (Artigo 6º).

Embora tenha sido bastante útil, a Lei não beneficiou os cooperados integralmente, pois restringia sua autonomia e poder de criação e fiscalização. Portanto, seria preciso elaborar uma nova legislação para atender às demandas e expectativas dos cooperados.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 foi um grande marco para as cooperativas do nosso país, pois garantiu a autogestão e autonomia total. A partir daquele ano, o Estado não poderia mais intervir na administração do segmento. A independência do cooperativismo foi conquistada. Assim, a modalidade cresce no Brasil até hoje.

Os princípios que solidificam a história do cooperativismo

Desde o início, esse setor segue os mesmos valores. Confira os 7 princípios que norteiam a existência e a evolução do cooperativismo no nosso país.

  1. Adesão livre e voluntária: toda pessoa física pode associar-se a uma cooperativa, independentemente de suas características (gênero, etnia ou religião).
  2. Gestão democrática: todos os integrantes participam ativamente na gestão da cooperativa, além de poderem votar nas assembleias.
  3. Participação econômica: os cooperados contribuem para desenvolvimento econômico da cooperativa e recebem um retorno financeiro de acordo com a movimentação realizada.
  4. Autonomia e independência: por apresentar uma gestão democrática e igualitária, a cooperativa não pode firmar acordos e parcerias com outras instituições que prejudiquem o princípio da autonomia e da independência.
  5. Educação, formação e informação: as cooperativas se preocupam com o desenvolvimento dos seus integrantes, por isso promovem a capacitação em diversas áreas do conhecimento.
  6. Intercooperação: as cooperativas se apoiam para fortalecer e estimular o crescimento das instituições. Esse incentivo pode acontecer de diversas maneiras, tanto entre cooperativas do mesmo ramo quanto de segmentos distintos.
  7. Interesse pela comunidade: preocupam-se com o desenvolvimento socioeconômico como um todo. Dessa forma, estão sempre envolvidas em projetos voltados à população.

Dados sobre o crescimento do cooperativismo no Brasil

Conforme dados levantados pelo Anuário Coop 2022 da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), até 2021, havia um total de 4.880 cooperativas registradas com mais de 18 milhões de cooperados, representando cerca de 8% da população do país.

O ativo do cooperativismo chegou a R$ 784,3 bilhões em 2021 — indicando um crescimento de 20% em relação ao ano anterior. No que se refere à distribuição geográfica, o norte do país apresenta o maior número de cooperativas.

Um dos fatores levantados pela OCB é a sustentabilidade financeira do segmento cooperativista. Mesmo antes da crise econômica de 2020, muitas empresas no Brasil fechavam as portas com apenas uma década de atividade. Em contrapartida, o cooperativismo tem sido bastante resiliente, com mais de 2.500 instituições com mais de 20 anos de existência.

Por fim, o setor também se destaca no quesito emprego, com cerca de 493 mil cargos diretos gerados em 2021, um crescimento de 8% em comparação com 2020, comprovando sua influência na geração de renda e trabalho para o país.

As vantagens do crescimento do cooperativismo para a economia

O cooperativismo é um modelo econômico com base em cooperação, participação e solidariedade democrática dos cooperados. Ele oferece diversos benefícios. Conheça os mais evidentes.

Fortalecimento da comunidade local

As cooperativas são estabelecidas por pessoas de uma comunidade regional que se unem para suprir necessidades econômicas em comum. Esse agrupamento fortalece a localidade e promove o desenvolvimento social e financeiro, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida dos cooperados. Ao criar oportunidades de trabalho, essas instituições diminuem o desemprego e favorecem a distribuição de riqueza na região.

Acesso a mercados e recursos

Com o apoio de uma cooperativa os cooperados têm acesso a mercados e recursos que seriam inacessíveis se fossem solicitados individualmente. Dessa forma, eles conquistam vantagens econômicas de grande importância, como negociação de preços e vantagens melhores para insumos e acesso a recursos de distribuição mais robustos, melhorando a competitividade no mercado.

Promoção da igualdade e equidade

O cooperativismo promove a equidade e a igualdade entre os cooperados, uma vez que cada associado tem direito ao voto, independentemente da quantia investida. Essa prática permite que decisões sejam tomadas de maneira democrática e que os ganhos sejam distribuídos de maneira justa, impedindo o acúmulo de poder e riqueza em poucas mãos.

Desenvolvimento de habilidades e educação

As cooperativas investem em programas de capacitação e treinamento para seus integrantes com foco no desenvolvimento de habilidades e na melhoria do conhecimento econômico e empresarial. Essa preparação ajuda os cooperados a melhorarem suas competências, gerando um impacto positivo em suas vidas pessoais e profissionais.

Sustentabilidade e responsabilidade social

Sustentabilidade e responsabilidade social são a essência das cooperativas, principalmente no que se refere às práticas ambientais responsáveis. Isso significa promover ações ecológicas de produção, comercialização justa entre os negócios, compromisso com as pessoas que trabalham e residem na localidade e apoio a causas importantes e urgentes.

Resiliência econômica

O cooperativismo favorece a segurança financeira, principalmente em períodos de instabilidade econômica. Ao atuarem juntos e dividirem recursos e riscos, os cooperados ficam mais fortalecidos para lidar com desafios que envolvem finanças, como recessões ou variações do mercado, do que empreendimentos individuais.

Os ramos do cooperativismo no Brasil

Existe uma estrutura dividida em 7 segmentos cooperativistas em nosso país. Conheça todos eles a seguir:

  1. Cooperativas de Crédito: são instituições que proveem recursos financeiros para todos os seus cooperados, com melhores condições e serviços de pagamento — além de colocarem as pessoas no centro dos objetivos do negócio.
  2. Cooperativas Agropecuárias: as instituições do setor agro têm relação direta com atividades agropecuárias, agroindustriais, aquícolas, extrativistas e pesqueiras. Elas atuam para beneficiar o recebimento, a comercialização, a estocagem e a industrialização dos produtos dos seus associados.
  3. Cooperativas de Transporte: são instituições que beneficiam quem atua em modalidades específicas de transporte — transporte individual (táxi e mototáxi), coletivo (micro-ônibus, ônibus e vans), escolar e de cargas. Para associar-se, basta ser proprietário do veículo utilizado.
  4. Cooperativas de Trabalho, Produção de Bens e Serviços: engloba todas as cooperativas que produzem bens (artesanato, vestuário e reciclagem de materiais) ou prestam serviços especializados a terceiros. Também inclui grupos de professores e instituições de lazer.
  5. Cooperativas de Saúde: inclui instituições médicas, odontológicas e profissionais vinculados à saúde humana, bem como cooperativas formadas que pretendem lançar planos de saúde próprios.
  6. Cooperativas de Consumo: têm a finalidade de facilitar a aquisição de produtos ou serviços em abundância, melhorando as condições de pagamento e reduzindo preços. Elas podem ser fechadas (exclusivas para cooperados do mesmo ramo ou profissão) ou abertas (de livre associação).
  7. Cooperativas de Infraestrutura: reúne instituições que prestam serviços essenciais para a população, como fornecimento de energia, internet banda larga e telefonia móvel. Além disso, desde 2020, inclui cooperativas de construções de imóveis.

O cooperativismo no Brasil é marcado por práticas coletivas que visam o desenvolvimento socioeconômico dos associados, além das comunidades. Além disso, nunca é demais mencionar que o setor segue inovador e atual, pois acompanha as tendências do mercado. Fazer parte de instituições dessa natureza é uma ótima alternativa para quem deseja prosperar em diversos segmentos sociais e profissionais.

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