O décimo terceiro episódio da Jornada SOMAR Forças da Credicitrus, série de seminários on-line nos quais associados e especialistas compartilham seu conhecimento e sua experiência, abordou o tema “A inovação e o mercado do café”. O webinar, realizado no dia 3 de dezembro, teve como palestrantes os cafeicultores cooperados Divino de Carvalho Garcia, Francisco Malta Cardozo, Guilherme Alves Meira, Lincoln Vilhena, Luiz da Cunha Sobrinho junto com seu filho Luis Claudio  e Marcelo Barbosa Avelar. O professor Marcos Fava Neves, da USP e da FGV, foi o mediador do evento, que contou com a participação dos diretores executivos da Cooperativa Walmir Fernandes Segatto (CEO), Domingos Sávio Oriente Franciulli (Comercial) e Marcelo Antônio Soares (Operações) e da supervisora da área de Atendimento ao Associado e PAs, Gabriely Monteiro Freire.

Marcos Fava Neves ressaltou, na abertura do seminário, que a cadeia do café é “absolutamente fascinante” e que a cafeicultura brasileira reúne, entre grandes, médios e pequenos produtores, mais de 13 mil famílias, havendo espaço para que todos, independentemente de porte, ganhem dinheiro com a atividade. Assim, a seu ver, o “café é includente”. Acentuou que o cafeicultor tem revelado uma qualidade diferenciada: a criatividade. Nesse sentido, afirmou: “Temos casos maravilhosos de marketing, de produtores desenvolvendo identidade própria. Hoje o café já está igual ao vinho. Vemos nas gôndolas de supermercados embalagens com QR code, que remetem a vídeos com a história e os diferentes aspectos envolvendo cada marca”. Acrescentou que há enorme variedade de opções no mercado quanto à quantidade de cafeína e agregação de algum sabor adicional como canela, laranja, baunilha e chocolate, além de decoração das cápsulas, entre outros aspectos. Para completar, empresas que lideram o processamento e a distribuição do café no mundo têm dado atenção especial à qualidade da matéria-prima, estimulando investimentos no setor. Adicionalmente, há oportunidades para que atividades industriais, como o encapsulamento do café para uso em máquinas, passem a ser feitas no Brasil. Por fim, sugeriu que as cooperativas agropecuárias ligadas à cafeicultura adotem medidas de intercooperação e passem a fazer em conjunto a comercialização internacional do produto, o que poderia proporcionar economias e ganhos de escala.

Resumo das apresentações

Na sequência, os cooperados convidados fizeram suas apresentações, contando brevemente como tem sido sua experiência na cafeicultura e que cuidados recomendam para a obtenção de índices mais elevados de qualidade, produtividade e rentabilidade nas lavouras.

Guilherme Alves Meira – Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP, informou que nasceu na cidade de São Paulo e, depois de formado, mudou-se para Marília, SP, para administrar a fazenda de café da família, que foi implantada por seu bisavô em 1926. “Esse é um exemplo da sustentabilidade da atividade, estarmos no mesmo local produzindo café e com produtividade crescente”. Disse que está há 30 anos na atividade e nela viu grandes mudanças em termos de tecnologia: “Em 1990, obtivemos uma produtividade por hectare de 10 a 12 sacas, que hoje está em 45 a 50 sacas, fruto de uma mudança radical de stand, variedades plantadas, uso de irrigação por gotejo e crescente mecanização”. Disse que a safra passada, colhida em julho, foi muito boa, cerca de 2% superior à de 2018/19. Porém, neste ano agrícola, a previsão é a de colher cerca de metade do colhido na última safra, em razão das poucas chuvas, não compensadas totalmente pela irrigação, dos danos provocados por uma chuva de granizo registrada em julho, que exigiu uma poda na área afetada, e da bienalidade da cultura. Mas está otimista quanto aos preços, pressionados para cima pela menor oferta do produto: “Nossos concorrentes também estão com problemas. O Vietnã e a América Central (El Salvador, Honduras e Guatemala) tiveram poucas chuvas e terão colheitas menores”. Por outro lado, lembrou que o Brasil vem batendo recordes em volumes exportados: “Devemos ter ganhos, mesmo que o dólar recue”. Por fim, falando sobre inovações no setor, opinou: “O café gourmet ainda é um nicho, representando uma parcela pequena do mercado, de 10% a 15%. Como a maioria produz commodities, nosso dever de casa é reduzir custos de produção, utilizando tecnologia e contando com o apoio do cooperativismo”.

Marcelo Barbosa Avelar – Também é engenheiro agrônomo e filho de um cafeicultor que está há mais de 60 anos no setor. Desde que se formou, dedicou sua vida profissional e pessoal a três atividades: café, pecuária leiteira e cooperativismo, sendo diretor do ramo agropecuário do sistema OCESP. “Sou pequeno produtor” – disse -, “tenho 25 hectares de café em Cristais Paulista, SP, na região de Franca, com toda a produção em sequeiro”. Sua lavoura também sofreu com a falta de chuvas e as temperaturas excepcionalmente elevadas deste ano, porém disse que os preços estão favoráveis, com o café de sua região sendo vendido por cerca de R$ 600,00 a saca. O mercado futuro também se mostra positivo: para 2021 e 2022, o preço está acima de R$ 600,00, e, para 2023, acima de R$ 700,00. Comentou que, na área geográfica em que está, a cafeicultura é muito eclética, incluindo produtores de todos os portes, desde mini até gigantes, com espaçamentos tradicionais e adensados, condução manual em áreas pequenas, mecanização em área planas, cultivo de inúmeras variedades. A seu ver, a cafeicultura, que é praticada nas mais variadas regiões brasileiras, continua sendo interessante, e pergunta: qual o melhor modelo? E responde: “Eu acho que todos os modelos podem ser extremamente rentáveis ou extremamente inviáveis. Daí, é importante a gestão de custos, conhecê-los bem, trabalhar sempre com olhar em produtividade para obter rentabilidade e, como terceiro ponto, buscar qualidade”. Por outro lado, no que se refere à gestão de custos, recomendou o uso de ferramentas comerciais como vendas no mercado futuro e operações de barter com cooperativas. Finalmente, advertiu que é preciso cuidado com os investimentos, calcular o nível de equipamento adequado ao tamanho da propriedade e tomar crédito com consciência.

A propósito da advertência feita pelo cooperado quanto aos cuidados com investimentos, o professor Fava Neves repetiu uma recomendação que já havia feito em um seminário anterior: “A gente tem que ficar melhor antes de ficar maior”.

Francisco Malta Cardozo – É engenheiro civil e membro de uma família que se dedica à cafeicultura no interior de São Paulo desde o final do século dezenove, tendo iniciado a atividade na Fazenda do Pinhal, em São Carlos, depois levada por seu bisavô para Marília e Santa Lúcia, na propriedade hoje dirigida pelo cooperado, onde, além do café, cultiva cana-de-açúcar e grãos. Relembrou que a cafeicultura exige cuidados operacionais e muitos investimentos em terreiros, secadores, máquinas de beneficiamento e outros equipamentos. Nesse sentido, concordou com as afirmações feitas pelos cooperados que se apresentaram antes quanto aos cuidados com os investimentos. Observa-se hoje, segundo ele, “uma grande transição na produção do café”, separando os produtores que estão em áreas mecanizadas dos que estão fora dessas áreas, sendo que estes enfrentam dificuldades para produzir o volume demandado pelos importadores, o que tem levado muitos agricultores ao empobrecimento: “Temos notícia de que a Colômbia já não consegue produzir em quantidade, por questão da mecanização”.  Hoje, conforme afirmou, “dez grandes empresas controlam metade do mercado do café torrado no mundo, enquanto há 25 milhões de cafeicultores espalhados pelos países produtores” e acentuou que, para o produtor ter acesso a preços mais competitivos, “a única solução seria ter ajuda do governo”. Com relação ao clima, disse que há 60 anos vem acompanhando as condições meteorológicas e constatou que as secas se tornaram mais frequentes e a temperatura vem aumentando, tendo chegado neste ano a 41 graus na região de Araraquara, um recorde. Sua recomendação é que o produtor utilize tecnologia na medida de sua capacidade e procure equilibrar custos, buscando alcançar produtividades mais altas.

Divino de Carvalho Garcia – Começou dizendo que sua “história é um pouco diferente”. Explicou: “Tenho 63 anos, nasci no Sul de Minas Gerais, filho de lavrador. Divido minha história em três etapas. Até os 19 anos , trabalhei com meu pai, fazendo serviços braçais durante o dia e estudando à noite. Depois, prestei concurso público e entrei no mercado financeiro, no Banco do Estado de São Paulo, sempre ligado ao café, começando na carteira agrícola em Patrocínio Paulista e passando por nove agências, tendo sido gerente em Ribeirão Preto e Franca. Em 1998, comprei um sítio com 3 hectares e comecei a plantar café como hobby”. Em 2003, adquiriu sua propriedade em Franca, onde tem 160 hectares de café, 60% mecanizado, mais 10% em montanha, onde cultiva variedades especiais. Em paralelo, associou-se à cooperativa Cocapec, sendo hoje membro de seu Conselho de Administração. Com bom humor, conta que se apaixonou pela cafeicultura: “Minhas filhas dizem que converso com pés de café”. Em paralelo, presta consultoria a produtores, principalmente na área financeira, e busca aperfeiçoamento constante, participando de eventos, conselhos e atividades correlatas. Como os demais participantes do webinar, queixou-se do clima: “Em nossa região, a Alta Mogiana, temos 95 mil hectares de café em produção, dos quais metade com problemas, pois enfrentamos a maior seca da história e temperaturas muito elevadas”. Isso deve provocar quebra de safra, mas com preços mais elevados, o que gera otimismo. Sua recomendação é que o produtor faça uma boa gestão de pessoas, zelando por suas famílias, para que continuem na atividade, e igualmente uma boa gestão comercial e financeira, que acompanhe seus custos e utilize o crédito com sabedoria, advertindo: “Crédito é igual a antibiótico. Na dose certa, cura; em subdose, não resolve; e em overdose, mata”.

Lincoln Vilhena – Contou que, desde que nasceu, teve contato com o café, pertencendo à quarta geração de uma família que, há mais de 80 anos, cultiva o produto alguns municípios de Minas Gerais e na Alta Mogiana (nos municípios paulistas de Franca, Ibiraci, Capetinga e Pedregulho), cobrindo uma área total de 2.400 hectares, dos quais 17% são irrigados. Assim resumiu sua carreira: “Sou engenheiro agrônomo e, depois de formado, trabalhei em algumas multinacionais, na área comercial, buscando aprendizado e diversificar investimentos”. Quando o grupo familiar, que é presidido por seu pai, decidiu expandir a atividade cafeeira, ele voltou para a região e hoje trabalha diretamente na produção, junto com três de seus quatro irmãos. Adicionalmente, junto com um dos irmãos, fundou uma empresa de consultoria financeira, estratégica e operacional para a cafeicultura. Suas observações sobre o clima e o déficit hídrico registrado na região coincidiram com as dos demais palestrante, levando ao comprometimento das safras 2020/21 e 2021/22, em especial as lavouras que não foram podadas. No que diz respeito a inovações e investimentos, informou que a irrigação se tornou uma necessidade, dada a insegurança climática, e está sendo incorporada em todos os novos projetos do grupo. Em termos de tecnologia, considera a cafeicultura ainda carente de equipamentos mais sofisticados, como os existentes para outras culturas: “Nessa área, o setor industrial ainda precisa melhorar muito”. Quanto à gestão, aconselha em especial um bom planejamento, para dois a três biênios, e chama atenção para a importância de um bom manejo: “Qualquer manejo mal feito a lavoura carrega para o resto da vida. Temos lavouras de 50 anos de idade ainda produtivas e lucrativas”. Recomenda que a gestão financeira seja muito rigorosa, fazendo-se o máximo possível com o mínimo de recursos. Também cita com destaque a governança, em especial a sucessão familiar, pois “os negócios precisam ser passados de uma mão para outra com muito cuidado”. E finaliza: “Um dos maiores desafios é o recrutamento de pessoas e a formação de líderes, transmitir o engajamento, o espírito de time que nos move.

Luiz da Cunha Sobrinho – Participou junto com seu filho Luis Cláudio e relatou, na sua apresentação, que seu pai era cafeicultor e, por isso, está na atividade a vida toda. Comentou que a atividade tem ficado mais difícil de ser conduzida: “De 1970 até 1990, por aí, a gente colhia pouco café e ganhava muito dinheiro, a gente era feliz e não sabia”. Hoje, afirma, “o cafeicultor tem que estar bem informado, saber fazer conta, investir na coisa certa na hora certa, saber perder dinheiro e não perder a esperança”. Com o objetivo de evoluir, revela que há alguns anos certificou a fazenda e passou a trabalhar com café orgânico, além de montar empresas paralelas para trabalhar com mais segurança. Quanto ao momento atual, diz: “Agora chegou o momento de passar por mais uma crise. Já perdi muito café com geada, chuva de pedra, seca, mas igual à seca deste ano nunca vi, com temperatura muito alta. Nossa lavoura, que estava bem preparada, estragou muito. A chuva veio tarde, vamos perder uns 5 mil sacos por falta de uma boa chuva, uma só. Se não fosse a irrigação em que investimos há alguns anos, a perda teria sido maior”. E concluiu com a seguinte mensagem: “Não pode perder a esperança, temos que ser otimistas, com pé no chão, porque o otimista demais vira aventureiro, fica rico depressa e perde depressa, tem que ir devagar”.

Comentários finais

Os diretores da Credicitrus e Marcos Fava Neves deixaram suas observações após as apresentações dos cooperados.

Marcos Fava Neves comentou: “Temos que pensar mais estrategicamente, como sociedade, para tentar capturar mais valor para as coisas que são feitas no Brasil. Temos que ter uma consolidação maior da atividade exportadora no Brasil”. Nesse sentido, sugeriu que a operação de exportação seja centralizada em uma ou duas cooperativas e, com isso, dê mais força ao Brasil junto aos mercados consumidores internacionais, além de proporcionar economias com o compartilhamento de atividades logísticas, por exemplo, como outros setores já fizeram.

Domingos Sávio, diretor Comercial, enfatizou que a Credicitrus, em razão da incorporação da Credicoonai, está chegando às regiões da Alta Mogiana e do Sul de Minas preparada para oferecer aos produtores de café amplo apoio na área de crédito cooperativo. A partir deste ano, de forma inédita, oferece repasses do Funcapé (giro, custeio e comercialização), além de linhas para investimentos em reforma, construção de terreiros, armazéns, aquisição de equipamentos, irrigação e implantação de energia solar, entre muitas outras possibilidades. Ressaltou: “O cafeicultor terá todo o amparo da Credicitrus. Temos um time de mais de 53 gerentes especializados em agronegócio, que atendem o cooperado com consultoria, de acordo com a sua necessidade, buscando sua sustentabilidade e a perenidade de seus negócios”.

Marcelo Soares, diretor de Operações,salientou que a cafeicultura é uma atividade diferente das demais commodities agrícolas: “Além de ser um negócio lucrativo para quem tem controle financeiro e visão de longuíssimo prazo, com pé no chão, o café faz parte da emoção das pessoas, está presente nas reuniões de família e de trabalho”. Porém, conforme disse, o Brasil ainda está “engatinhando” na comercialização do café, área em que ainda pode prosperar muito, não só vendendo commodities, mas marcas, com agregação de valor. Finalizou: “Quem ainda não está na cadeia do café e quer entrar e quem já está, seja pequeno, médio ou grande, se ouvir com calma esta live e todas as orientações que aqui foram dadas, terá um resumo do verdadeiro MBA do café dado aqui hoje”.

Walmir Segatto, CEO da Cooperativa, encerrou o evento salientando a importância que a série de webinars SOMAR Forças tem tido em função do volume de informações e experiências relevantes transmitidas em cada episódio. Depois, recordou que neste ano, a partir de março, em razão da pandemia, a Cooperativa decidiu cancelar as pré-assembleias presenciais, três das quais já havia realizado, e, em uma semana, colocou praticamente toda a sua equipe de colaboradores em home office. Salientou que essa mudança ocorrida na Cooperativa também foi experimentada por pessoas e empresários no mundo inteiro, obrigados a superar o desafio de uma transformação não vivida anteriormente na história humana. Como resultado, na Credicitrus, as operações e movimentações feitas por canais digitais e ATMs, que representavam 60% do volume de transações, saltaram para quase 98%. “Isso significa”, disse, “que as operações estão cada vez mais digitais e, ao mesmo tempo, o relacionamento é cada vez maior, e esta série de webinars, dado o número expressivo de pessoas que esses eventos têm atingido, demonstra a exponencialidade desse relacionamento”. Finalizou reforçando a importância da governança e da sucessão para a perenidade das organizações: “Temos que acompanhar as mudanças do dia a dia, sem esquecer dos que nos trouxeram até aqui e sendo provocados pelos que estão chegando”.

Assista à integra do webinar

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