O vigésimo primeiro episódio da Jornada SOMAR Forças da Credicitrus, transmitido ao vivo pelas redes sociais da Cooperativa no dia 29 de abril, abordou o tema “O que Esperar da Nova Safra de Cana?”. Os palestrantes foram cinco cooperados com tradição nesse segmento de mercado: Cyro Ferreira Penna Junior, Edemilto José Jorge, Luiz Lonardoni Foloni, Paulo Roberto Artioli e Roberto Salles Zancaner.

O cooperado professor Marcos Fava Neves foi o mediador do encontro, papel que tem desempenhado desde o primeiro episódio da série. Ainda participaram o diretor comercial da Cooperativa, Domingos Sávio Oriente Franciulli, e a gerente de Relacionamento com Associados e PAs, Karina Andriazi Cavazane.

Karina Andriazi abriu o encontro reafirmando o propósito da Credicitrus, de ser o principal meio de construção da prosperidade de cada cooperado, também beneficiando sua família e a comunidade em que vive e trabalha. Enfatizou, adicionalmente: “A Cooperativa nasceu com a finalidade específica de proporcionar apoio ao produtor agropecuário. Embora hoje atue com a mesma dedicação em outras frentes, apoiando pessoas físicas e jurídicas no meio urbano, jamais se afastou da missão de fortalecer o campo, que é o grande sustentáculo da segurança alimentar no Brasil e no mundo”. Complementou: “A Credicitrus é laranja, é grãos, é café, é pecuária e tudo mais que compõe o setor. Está onde o agro precisa que ela esteja”.

Marcos Fava Neves ressaltou na sequência o caráter educacional da Jornada SOMAR Forças, e afirmou: “Não haveria momento mais propício para falar da cana, porque estamos participando de um momento único do agronegócio brasileiro”, fazendo referência aos altos preços da soja e principalmente do milho. Disse: “Preço muito bom não é bom, pois acaba causando distorções”. A seu ver, a soja e o milho com preços elevados provocam uma inflação na cadeia de suprimentos, trazendo a necessidade de aumentar o plantio. Na safra passada, foram agregados 2,6 milhões de hectares à área cultivada com grãos; mais 2,5 a 3 milhões de hectares podem ser adicionados nesta safra. Comentou: “Isso vai ser tomado da pecuária e de outras culturas. Quando o grão faz com que o produtor não tenha plantado cana, estamos atrapalhando esta cultura e o atendimento das usinas. Com esses preços, é inflacionado o arrendamento. Então, estamos vivendo um verdadeiro estresse sobre as cadeias produtivas”. Finalizou afirmando que a cana é pressionada pelos grãos e pelo clima, com as previsões de safra sendo revisadas para baixo, enquanto as exportações de açúcar continuam em nível alto e a demanda de combustível volta a crescer no Brasil e no mundo.

Apresentações em resumo

São resumidas a seguir as apresentações feitas pelos cinco cooperados convidados, cuja íntegra permanece disponível do canal da Credicitrus no Youtube.

Roberto Salles Zancaner – Membro de família de produtores rurais, por parte de mãe e pai, planta cana em sua propriedade localizada em Guararapes, SP. Relatou que, há alguns anos, ao assistir a uma palestra sobre adubação de capim para manutenção de pastagens, teve uma revelação: “Aí caiu a ficha. A cana, como o capim, é uma gramínea. Comecei a tratá-la como cultura perene e tem dado bons resultados”. Acrescentou: “É só pensar um pouco fora da curva. O que a maioria está fazendo não é necessariamente o mais correto. Se alguém não experimentar algo diferente, não progride”. O cooperado tem duas propriedades no Mato Grosso do Sul, onde cultiva soja, e afirma que, apesar dos bons preços da soja, vai continuar a plantar cana em Guararapes: “Não quero depender de uma cultura só. A diversificação é o caminho. Temos que ter serenidade, não sair perseguindo a cultura que é a campeã de lucratividade da vez, porque o mercado tem altos e baixos”.

Edemilto José Jorge – Com propriedade em Glicério, SP, em uma região onde predominam as culturas de soja e milho, relatou que começou a plantar cana em 2006/2007, como alternativa de diversificação, pois esse tinha sido um ano ruim para as culturas de grãos: “Essa opção tem dado certo, representando uma garantia de equilíbrio financeiro, pois a cana aguenta mais desaforo, mesmo quando as condições climáticas são menos favoráveis”. Porém, o clima seco deve provocar quebras na produção na região em que está e abrange os municípios paulistas de Araçatuba, Coroados, Glicério e Penápolis, em razão da menor produtividade da cultura.

Cyro Ferreira Penna Junior – Produtor rural há 30 anos, com propriedade no município de Colômbia, SP, iniciou o cultivo de cana há 15 anos, quando a Usina Andrade se instalou na região e, agora, vê boas perspectivas de segurança financeira para os canavicultores, em razão da recente aprovação pelo CADE da aquisição das usinas da Biosev pela Raízen. Acredita que os preços subirão em razão da oferta menor e do consumo interno e externo em elevação, afirmando: “Há um estudo que diz que se o consumo de etanol aumentar 8%, o Brasil terá que importar 1 bilhão de litros”. A seu ver, porém, é preciso atenção ao custo de produção: “Temos que melhorar a gestão porteira adentro, conhecer nossas propriedades, suas características edáficas e as cartas de solo. Também observamos no Brasil uma evolução tecnológica importante, com a inserção de modelos sustentáveis e biológicos de produção. Tenho verificado in loco que esses modelos realmente contribuem para o aumento da produtividade”. Com relação aos custos, mencionou o projeto Campo Futuro, realizado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em parceria com o Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), da ESALQ/USP. Seu último estudo, relativo à safra 2019/20, mostrou que os fornecedores de cana tiveram uma receita operacional de R$ 97,98 por tonelada, com custo operacional de R$ 89,71, com margem líquida de aproximadamente R$ 8,00. Ressaltou: “Se for agregada a essa conta a remuneração da terra e do capital, o custo operacional aumentaria mais de R$ 30,00, os fornecedores de cana tiveram um prejuízo de R$ 25,00 por tonelada”.

Para fazer frente a essa defasagem, acha necessária uma melhor negociação com as usinas: “Fui presidente do Sindicato Rural durante 11 anos e tive ação institucional na área de citros e atualmente tenho na pecuária. Da porteira para fora, o produtor deve prestigiar e participar ativamente de associações de classe e suas cooperativas, em busca de defesa de classe e de entrega com alta qualidade de serviços financeiros, de extensão rural e comercialização, para diminuirmos a absurda elevação de custos. Aumentar poder de negociação em todos os fóruns, municipal, estadual e federal. Não adianta ficar jogando pedra de longe, tem que participar das discussões”.

Luiz Lonardoni Foloni – Revelou inicialmente que é neto de cafeicultores e estudou muito café, que foi tema de sua tese de doutorado. É engenheiro agrônomo, com mestrado em energia nuclear na agricultura e doutor em agronomia. Foi professor da UNESP/Botucatu por 10 anos, trabalhou em uma multinacional por mais de 10 anos e, depois, por mais de 20 anos, foi professor de pós-graduação na Feagri/Unicamp, sempre atuando na área de pesquisa e desenvolvimento de herbicidas. Também valoriza a participação em entidades de classe.

Ele também é sócio da Coopercitrus há muitos anos e faz parte da diretoria da Associação dos Fornecedores de Cana de Bariri (Assobari) e ressaltou: “Sozinhos não somos nada, precisamos realmente nos firmar, porque, mesmo com as cooperativas, somos o elo fraco da cadeia”. Com relação à Assobari, acrescentou: “Nossa associação foi a primeira a ser certificada e, neste ano, já recebemos uns trocadinhos por créditos de carbono. Acredito muito nesse mercado. O mundo nos mostra que estamos caminhando para a sustentabilidade, e quem fizer a coisa certa vai receber algo em troca”.

Com relação à cana, disse acreditar que a ATR subirá, mas ressalvando: “Na ótica da Pecege, nós, produtores de cana, estamos no negativo faz tempo. Tenho duas áreas, uma com grãos, outra com cana. Creio que a cana tem virtudes, é menos suscetível a variáveis climáticas. O balanço entre safras de ciclo curto, como as de grãos, que permitem fazer caixa mais cedo, e a cana dá mais equilíbrio econômico ao produtor”. Luiz também reforçou a questão do menor volume de chuvas: “A cana depende menos da variação climática. Só que, no ano passado, em nossa região, onde costuma chover 1.400 mm por ano, choveu apenas 960 mm e, neste ano, a tendência é chover ainda menos. Isso deve afetar a produtividade da cana violentamente”. Outro fator ligado à produtividade é a colheita mecânica, sobre a qual opinou: “No tempo de colheita com facão, eu cheguei a tirar 11 cortes de cana, o último acima de 75 toneladas por hectare. Hoje não consigo passar de cinco cortes”. Acentuou: “Deveria ser feito um trabalho juntamente com a Orplana – Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil, para ver se conseguimos dividir um pouco melhor o bolo. Hoje recebemos apenas pela quantidade de açúcar que entregamos, mas já vi aqui, em nossa região, que o preço do bagaço chega a ser maior do que o da tonelada de cana. A usina tira o caldo, tira o bagaço e tira a energia. Esse é um tema para discussão por meio das associações, porque sozinhos não conseguimos ir contra o tamanho da máquina que está do outro lado”.

Paulo Roberto Artioli – Engenheiro agrônomo, membro família de agricultores, confessa ser apaixonado pelo agronegócio. É diretor técnico da Tecnocana, sediada no município paulista de Macatuba, com 13.500 hectares de cana cultivados nesse município e em Lençóis Paulista, Borevi, Agudos e Bauru. A empresa fornece em torno de 780 mil toneladas de cana ao Grupo Zillo e, nessa condição, integra uma associação formada por 23 parceiros que fornecem cana para as duas usinas que essa organização mantém na região, em Macatuba e Lençóis Paulista. A propósito desse regime de parcerias, afirmou: “Esse modelo, cuja implantação teve a participação do Marcos Fava Neves, tem dado resultados muito bons. Engrandeceu nossa região, nos deu mão de obra, deixou o dinheiro circular, deu oportunidade a outras empresas aqui constituídas na parte de manutenção. Temos orgulho de fazer parte desse grupo que agrega esses parceiros agrícolas”.

Informou que a Tecnocana atua desde o preparo do solo, passando pelo plantio, pelos tratos culturais e pela colheita, culminando com o transporte até o interior das duas usinas.  Em suas atividades, a introdução de novas tecnologias tem tido destaque, por meio de investimentos em variedades mais adaptadas à mecanização, uma vez que, conforme acentuou, “a compactação é um vilão” e a cana tem que ter raiz, “quanto mais desenvolvido o seu sistema radicular, mais produtiva será”. Também deu destaque aos tratamentos fitossanitários com inseticidas, nematicidas e especialmente com fungicidas, “pois a mecanização da colheita mudou a sanidade dos canaviais”.  Finalmente, enfatizou a importância da gestão do manejo, mencionando especificamente a Matriz de Terceiro Eixo, ou Matriz Tridimensional, que consiste em colher os canaviais seguindo uma lógica de idade, iniciando a safra com as canas mais novas e finalizando com as mais antigas. Primeiro é colhida toda a cana planta, seguida das socas de segundo corte e, posteriormente, de terceiro corte, e assim sucessivamente. No ano seguinte, a colheita da área será realizada sempre com um mês de atraso, para que um maior período de crescimento resulte em maior maturação e maior taxa de produção. “Esse regime”, finalizou o cooperado, “é um fator que pode melhorar a ATR para buscarmos a cana de três dígitos”.

Quebras de safra estimadas

Após suas apresentações, os cinco cooperados que participaram do webinar responderam à questão formulada por Marcos Fava Neves: qual deve ser, na avaliação de cada um, a quebra estimada na safra em sua respectiva região? As respostas foram as seguintes: Paulo Roberto Artioli (municípios paulistas de Macatuba, Lençóis Paulista, Borevi, Agudos e Bauru): 6%; Roberto Salles Zancaner (Guararapes, SP): 10%; Edemilto José Jorge (Glicério, SP): 20%; Luiz Lonardoni Foloni (Bariri, SP): 15% a 20%; e Cyro Ferreira Penna Junior (Colômbia, SP): 20%.

Apoio da Credicitrus

Encerrando o seminário, Domingos Sávio, diretor comercial da Credicitrus, enfatizou: “Quando assumimos o desafio de tornar nossa cooperativa a primeira instituição financeira para o cooperado, buscamos não depender apenas dos repasses de recursos subsidiados pelo Plano Safra. De três anos para cá, a Cooperativa vem adaptando linhas de crédito espelhadas no próprio Plano Safra, com custos competitivos, para assegurar ao produtor rural, no momento adequado, recursos para custeio, capital de giro e investimento”. Completou: “A Cooperativa também tem buscado, incessantemente, melhorias de processo, por meio de inteligência de crédito e análises setoriais muito profissionais, pois o agronegócio brasileiro é uma atividade de 12 meses e temos que acompanhar esse ritmo”.

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